English

Português

Español

Français

Colocar mensagem aqui

Revista

Sobre

Equipa Editorial

Autores

Submissão de Artigos

Números

Agora

Sobre

Equipa Editorial

Artigos

Secções

Vol. 29 (2)
2025



Artigos

Quebra-cabeças de narciso: a etnografia defronta-se com o delírio e se “hospeda” no Hotel da Loucura – Rio de Janeiro

Luciano von der Goltz Vianna

O presente artigo parte de um debate que visa compreender como os regimes disciplinares da antropologia conduzem o pesquisador a seguir um protocolo específico de questões e interesses em suas pesquisas. O objetivo, aqui, é discutir sobre os

[+]


Artigos

Por trás das crianças, dos objetos e dos cuises: agência e pesquisa em um bairro periurbano de Córdoba (Argentina)

Rocío Fatyass

Neste artigo retomo ideias emergentes de um projeto de pesquisa com crianças que acontece em um bairro periurbano da cidade de Villa Nueva (Córdoba, Argentina) e discuto a agência das crianças e sua participação na pesquisa em ciências

[+]


Artigos

A propósito da construção de conhecimentos sobre o ecossistema amazônico a partir de uma instituição científica brasileira

Aline Moreira Magalhães

A produção de um saber moderno acerca da flora e fauna amazônicas incorpora, desde as expedições naturalistas do século XVIII, conhecedores e conhecedoras por vivência daquele ecossistema. No Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia

[+]


Interdisciplinaridades

Viver numa casa do Siza: a experiência da arquitetura de autor na Malagueira, Évora

Juliana Pereira, Ana Catarina Costa, André Carmo, Eduardo Ascensão

Este artigo retoma os estudos sobre a casa e o habitar desenvolvidos pela Antropologia e pela Arquitetura portuguesas, acrescentando-lhes um olhar vindo das geografias da arquitetura, para de seguida explorar a forma como os habitantes de edifícios

[+]


Dossiê “Beyond penal populism: complexifying justice systems and security through qualitative lenses”

Introduction: Beyond penal populism: complexifying justice systems and security through qualitative lenses

Annabelle Dias Félix, Maria João Leote de Carvalho, Catarina Frois

In the global political landscape, as far-right parties gain prominence, populist rhetoric advocating for harsher justice and security policies is becoming increasingly prevalent. Proponents of this rhetoric base their discourse on “alarming”

[+]


Dossiê “Beyond penal populism: complexifying justice systems and security through qualitative lenses”

Privatizing urban security: control, hospitality and suspicion in the Brazilian shopping

Susana Durão, Paola Argentin

In this article we argue that hospitality security – a modality that confuses control and care – operates through the actions of security guards in the creation of what we call pre-cases. From a dense ethnography accompanying these workers in a

[+]


Dossiê “Beyond penal populism: complexifying justice systems and security through qualitative lenses”

“Abuso policial, todos os dias o enfrentamos”: notas etnográficas sobre violência policial racista

Pedro Varela

A violência policial racista é uma das facetas mais brutais do racismo na nossa sociedade, refletindo estruturas de poder e opressão que marginalizam setores da sociedade. Este artigo sublinha a importância de compreender essa realidade,

[+]


Dossiê “Beyond penal populism: complexifying justice systems and security through qualitative lenses”

Marginality, security, surveillance, crime, imprisonment: reflections on an intellectual and methodological trajectory

Catarina Frois

This article engages with contemporary anthropological and ethnographic methodological debates by reflecting on the challenges of conducting research in contexts related with marginality, deviance, surveillance, and imprisonment. It examines the

[+]


Dossiê “Beyond penal populism: complexifying justice systems and security through qualitative lenses”

Navigating the labyrinth: qualitative research in the securitized border regions of North Africa

Lydia Letsch

Qualitative researchers face unique challenges in the dynamic domain of border regions, particularly when venturing into highly securitized areas with a constant military presence, advanced surveillance, and restricted access zones. This article

[+]


Memória

Uma vida, muitas vidas: entrevista com Victor Bandeira, etnógrafo e viajante

Rita Tomé, João Leal

Falecido recentemente, Victor Bandeira (1931-2024) desempenhou um papel fundamental no desenvolvimento da museologia etnográfica em Portugal. Foi graças às suas expedições a África (1960-1961, 1966, 1967), ao Brasil (1964-1965) e à Indonésia

[+]


Prémio Lévi-Strauss

Da “nota de pesar” à “injusta agressão”: notícias sobre morte escritas pela PMSC

Jo P. Klinkerfus

Este trabalho é uma versão reduzida e sintetizada da etnografia realizada do PMSC Notícia, a plataforma de notícias da Polícia Militar de Santa Catarina (PMSC). A partir das notícias sobre a morte, o morrer e os mortos publicadas no site no

[+]

Vol. 29 (1)
2025



Artigos

“Chega desta falsa guerra”: ecologias de valor, operários e ambientalistas na Itália do Sul

Antonio Maria Pusceddu

Este artigo mobiliza as ecologias de valor como um quadro concetual para dar conta dos conflitos, contradições e dilemas decorrentes da experiência da crise socioecológica contemporânea. Baseia-se num trabalho de campo etnográfico em Brindisi,

[+]


Artigos

“Preventing them from being adrift”: challenges for professional practice in the Argentinean mental health system for children and adolescents

Axel Levin

This ethnographic article addresses the difficulties, practices, and strategies of the professionals of the only Argentine hospital fully specialized in the treatment of mental health problems of children and adolescents. More specifically, it

[+]


Artigos

Fazendo Crianças: uma iconografia das ibejadas pelos centros, lojas e fábricas do Rio de Janeiro, Brasil

Morena Freitas

As ibejadas são entidades infantis que, junto aos caboclos, pretos-velhos, exus e pombagiras, habitam o panteão da umbanda. Nos centros, essas entidades se apresentam em coloridas imagens, alegres pontos cantados e muitos doces que nos permitem

[+]


Artigos

To migrate and to belong: intimacy, ecclesiastical absence, and playful competition in the Aymara Anata-Carnival of Chiapa (Chile)

Pablo Mardones

The article analyzes the Anata-Carnival festivity celebrated in the Andean town of Chiapa in the Tarapacá Region, Great North of Chile. I suggest that this celebration constitutes one of the main events that promote the reproduction of feelings of

[+]


Artigos

Hauntology e nostalgia nas paisagens turísticas de Sarajevo

Marta Roriz

Partindo de desenvolvimentos na teoria etnográfica e antropológica para os estudos do turismo urbano, este ensaio oferece uma descrição das paisagens turísticas de Sarajevo pela perspetiva do turista-etnógrafo, detalhando como o tempo se

[+]


Memória

David J. Webster em Moçambique: epistolário mínimo (1971-1979)

Lorenzo Macagno

O artigo comenta, contextualiza e transcreve o intercâmbio epistolar que mantiveram, entre 1971 e 1979, o antropólogo social David J. Webster (1945-1989) e o etnólogo e funcionário colonial português, António Rita-Ferreira (1922-2014).

[+]


Dossiê "Géneros e cuidados na experiência transnacional cabo-verdiana"

Género e cuidados na experiência transnacional cabo-verdiana: introdução

Luzia Oca González, Fernando Barbosa Rodrigues and Iria Vázquez Silva

Neste dossiê sobre o género e os cuidados na comunidade transnacional cabo-verdiana, as leitoras e leitores encontrarão os resultados de diferentes etnografias feitas tanto em Cabo Verde como nos países de destino da sua diáspora no sul da

[+]


Dossiê "Géneros e cuidados na experiência transnacional cabo-verdiana"

“Vizinhu ta trocadu pratu ku kada casa”… Cuidar para evitar a fome em Brianda, Ilha de Santiago de Cabo Verde

Fernando Barbosa Rodrigues

Partindo do terreno etnográfico – interior da ilha de Santiago de Cabo Verde – e com base na observação participante e em testemunhos das habitantes locais de Brianda, este artigo é uma contribuição para poder interpretar as estratégias

[+]


Dossiê "Géneros e cuidados na experiência transnacional cabo-verdiana"

“Eu já aguentei muita gente nessa vida”: sobre cuidados, gênero e geração em famílias cabo-verdianas

Andréa Lobo and André Omisilê Justino

Este artigo reflete sobre a categoria cuidado quando atravessada pelas dinâmicas de gênero e geração na sociedade cabo-verdiana. O ato de cuidar é de fundamental importância para as dinâmicas familiares nesta sociedade que é marcada por

[+]


Dossiê "Géneros e cuidados na experiência transnacional cabo-verdiana"

Cadeias globais de cuidados nas migrações cabo-verdianas: mulheres que ficam para outras poderem migrar

Luzia Oca González and Iria Vázquez Silva

Este artigo toma como base o trabalho de campo realizado com mulheres de quatro gerações, pertencentes a cinco famílias residentes na localidade de Burela (Galiza) e aos seus grupos domésticos originários da ilha de Santiago. Apresentamos três

[+]


Dossiê "Géneros e cuidados na experiência transnacional cabo-verdiana"

The difficult balance between work and life: care arrangements in three generations of Cape Verdean migrants

Keina Espiñeira González, Belén Fernández-Suárez and Antía Pérez-Caramés

The reconciliation of the personal, work and family spheres of migrants is an emerging issue in migration studies, with concepts such as the transnational family and global care chains. In this contribution we analyse the strategies deployed by

[+]


Debate

Estrangeiros universais: a “viragem ontológica” considerada de uma perspetiva fenomenológica

Filipe Verde

Este artigo questiona a consistência, razoabilidade e fecundidade das propostas metodológicas e conceção de conhecimento antropológico da “viragem ontológica” em antropologia. Tomando como ponto de partida o livro-manifesto produzido por

[+]


Debate

Universos estrangeiros: ainda a polêmica virada ontológica na antropologia

Rogério Brittes W. Pires

O artigo “Estrangeiros universais”, de Filipe Verde, apresenta uma crítica ao que chama de “viragem ontológica” na antropologia, tomando o livro The Ontological Turn, de Holbraad e Pedersen (2017), como ponto de partida (2025a: 252).1 O

[+]


Debate

Resposta a Rogério Pires

Filipe Verde

Se há evidência que a antropologia sempre reconheceu é a de que o meio em que somos inculturados molda de forma decisiva a nossa compreensão do mundo e de nós mesmos. Isso é assim para a própria antropologia e, portanto, ser antropólogo é

[+]


Debate

Da ontologia da fenomenologia na antropologia: ensaio de resposta

Rogério Brittes W. Pires

Um erro do construtivismo clássico é postular que verdades alheias seriam construídas socialmente, mas as do próprio enunciador não. Que minha visão de mundo, do fazer antropológico e da ciência sejam moldadas por meu ambiente – em

[+]

Nota sobre a capa

Nota sobre a capa

Pedro Calapez

© Pedro Calapez. 2023. (Pormenor) Díptico B; Técnica e Suporte: Acrílico sobre tela colada em MDF e estrutura em madeira. Dimensões: 192 x 120 x 4 cm. Imagem gentilmente cedidas pelo autor. Créditos fotográficos: MPPC / Pedro

[+]

Revista

Sobre

Equipa Editorial

Autores

Submissão de Artigos

Números

Agora

Sobre

Equipa Editorial

Artigos

Secções

Política de privacidade

Iscte-Instituto Universitário de Lisboa
Edifício 4 - Iscte_Conhecimento e Inovação, Sala B1.130 
Av. Forças Armadas, 40 1649-026 Lisboa, Portugal

(+351) 210 464 057
etnografica@cria.org.pt

Financiado pela FCT, I. P. (UIDB/04038/2020 e UIDP/04038/2020)

© 2025 Revista Etnográfica

Revista

Sobre

Equipa Editorial

Autores

Submissão de Artigos

Números

Agora

Sobre

Equipa Editorial

Artigos

Secções

Política de privacidade

Iscte-Instituto Universitário de Lisboa
Edifício 4 - Iscte_Conhecimento e Inovação, Sala B1.130 
Av. Forças Armadas, 40 1649-026 Lisboa, Portugal

(+351) 210 464 057
etnografica@cria.org.pt

Financiado pela FCT, I. P. (UIDB/04038/2020 e UIDP/04038/2020)

© 2025 Revista Etnográfica

Notas de Campo

É por sentir a tua falta que estou magro: (re)encontros masculinos no Chaco boliviano

Pere Morell i Torra

18.04.2024

This text focuses on my last encounter with one of my main interlocutors in the field, when a change in the subject of my research also changed our relationship [1]. Through fragments of conversations, field diary excerpts and subjective impressions, it explores the diverse expressions of masculinity and sexuality in indigenous contexts, also delving into the ambivalences that run through ethnographic practice and male intersubjective relations when reviewed in a gendered way.  

DOI: https://doi.org/10.25660/AGORA0014.4TS4-W675
O presente texto centra-se no meu último encontro com um dos meus principais interlocutores em campo, quando uma mudança no tema da minha pesquisa alterou também a nossa relação [1]. Através de fragmentos de conversas, excertos de diários de campo e impressões subjectivas, explora as diversas expressões da masculinidade e sexualidade em contextos indígenas, aprofundando também as ambivalências que atravessam a prática etnográfica e as relações intersubjectivas masculinas quando revistas à luz das categorias de género. 

DOI: https://doi.org/10.25660/AGORA0014.4TS4-W675

El presente texto se centra en mi último reencuentro con uno de mis principales interlocutores en el campo, cuando un cambio en la temática de mi investigación cambió también nuestra relación [1]. A través de fragmentos de conversaciones, pasajes del diario de campo e impresiones subjetivas, se exploran las diversas expresiones de la masculinidad y la sexualidad en contextos indígenas,  adentrándose también en las ambivalencias que atraviesan la práctica etnográfica y las relaciones intersubjetivas masculinas cuando se revisan en clave de género. 

DOI: https://doi.org/10.25660/AGORA0014.4TS4-W675

Ce texte se concentre sur ma dernière rencontre avec l'un de mes principaux interlocuteurs sur le terrain, lorsqu'un changement dans le sujet de ma recherche a également modifié notre relation [1]. À travers des fragments de conversations, des extraits de journaux de terrain et des impressions subjectives, il explore les diverses expressions de la masculinité et de la sexualité dans les contextes indigènes, tout en approfondissant les ambivalences qui traversent la pratique ethnographique et les relations intersubjectives masculines lorsqu'elles sont examinées d'un point de vue sexospécifique.  

DOI: https://doi.org/10.25660/AGORA0014.4TS4-W675

Notas de Campo são textos originais que disponibilizam um olhar e uma reflexão sobre experiências de investigação com apresentação de vinhetas de trabalho de campo. Os autores são convidados a incorporar representações multimodais (texto, som e imagem nos mais variados formatos) que facilitem acessos aos factos, materialidades, envolvimentos, interacções, relações e interacções possibilitadas durante o trabalho de campo. Uma secção que abre a porta aos modos como os antropólogos produzem conhecimento quando fazem as suas pesquisas, valorizando os dados em bruto, os materiais por analisar, as impressões e as imprecisões, a circunstacialidade e a natureza gerundial do fazer antropologia e que convida a soluções criativas que nos façam entrar ou aproximar às experiências vividas pelos antropólogos no campo.

O presente texto centra-se no meu último encontro com um dos meus principais interlocutores em campo, quando uma mudança no tema da minha pesquisa alterou também a nossa relação. Através de fragmentos de conversas, excertos de diários de campo e impressões subjectivas, explora as diversas expressões da masculinidade e sexualidade em contextos indígenas, aprofundando também as ambivalências que atravessam a prática etnográfica e as relações intersubjectivas masculinas quando revistas à luz das categorias de género. 





Foto do autor.

“¿Cómo fue que nos conocimos Pedrito?” Me pregunta quien, en rechazo explícito al seudónimo que le sugerí para contar su historia -Carlos, Carlitos; “demasiado vulgar”, me dice - ha decidido rebautizarse a través de un exuberante y florido nombre en guaraní:  Ndereka Semonpiru, “es por extrañarte que estoy flaco”, según su traducción. “Me parece genial, como sacado de una de estas rancheras de desamores que escuchamos en tu casa”, le digo a quien dejará de ser Carlos-Carlitos para devenir Ndereka Semonpiru.


En realidad, este nombre o apodo, que conserva la elocuencia expresiva de los nombres guaraníes antiguos -anteriores a la castellanización y adopción de la más sobria onomástica española- no se lo inventó Semonpiru ad-hoc cuando, poco antes de despedirnos, le planteé la conveniencia de usar un pseudónimo, sino que tiene una historia a sus espaldas que lo hace aún más irresistible para un antropólogo. Me cuenta que le fue dado hace tiempo - más de veinte años - por un ipaye (chamán) en una comunidad guaraní que festejaba el arete guasu, su “fiesta grande”: “Una fiesta como las que sabíamos hacer más antes en tiempos de cosecha”, regada con abundante kägui, chicha de maíz fermentada, con danzarines ataviados con máscaras emplumadas y bailes colectivos que, al ritmo circular de flautas y tamborines, podían prolongarse por días.


Semonpiru no lo recordaba -a diferencia mía, él no mantiene un registro escrito y fechado con vocación de abarcar todas sus interacciones sociales- pero fue precisamente en una fiesta, de naturaleza bien distinta a la evocada, donde nos conocimos. Hace casi diez años. Según mi diario de campo, el primer encuentro tuvo lugar la noche del 6 de septiembre de 2014. Fue en la plaza principal de un pequeño pueblo del Chaco boliviano. Si dejamos de lado la pretensión etnológica de minuciosidad en favor de la fluidez narrativa –y del anonimato de nuestro protagonista- podríamos convenir que, singularidades aparte, este pequeño pueblo chaqueño se parece bastante a otros pequeños pueblos de esta región del sureste de Bolivia. Su centro lo demarca una arbolada plaza presidida por la iglesia católica. Rodean la plaza casas con techos de teja y porchadas de madera, una de ellas ejerce la función de alcaldía municipal, otras ofrecen comida y bebida, seguramente también encontraremos un hospedaje. En el centro de plaza se erige una estatua conmemorativa, probablemente en alusión a un episodio histórico -con cierta preferencia por la Guerra del Chaco- que conecta al pequeño pueblo con la gran historia nacional.


El nacimiento de este tipo de pueblos no suele remontarse más allá de la independencia de Bolivia, 1825, y su fundación es indisociable del proceso de colonización impulsado por la naciente República. El establecimiento de pueblos ligados a las haciendas ganaderas que previamente habían ido penetrando en territorio guaraní sería clave para asegurar la estatalización de una región de frontera colonial que, gracias a la reputada belicosidad guaraní, había logrado mantenerse al margen de la administración colonial española. Cierto imaginario vinculado a la hazaña pionera y a la blanquitud pervive aún hoy en estos pueblos que, pese a los importantes cambios sociodemográficos, podemos caracterizar como pueblos karai, el étnononimo guaraní para referirse al no-guaraní, particularmente al blanco.


El día de mi primer encuentro con Semonpiru se celebraba la feria de la tradición, una de las diversas festividades que periódicamente animan la plaza de nuestro pueblo karai. En mi diario de campo lo consignaba como sigue: “la feria dura dos días y dos largas noches. Incluye discursos de las autoridades municipales; venta de comida y artesanías traídas por comunarios guaraníes; un concurso de belleza femenina con niñas pre-adolescentes en edad escolar; baile nocturno con banda (chacareras, cumbia, bachata); y, en fin, consumo masivo de alcohol”. Leídas retrospectivamente en clave de género, este tipo de celebraciones que se desenvuelven alrededor de la plaza, núcleo espacial del imaginario pionero-colonial, son centrales para comprender las lógicas que atraviesan y estructuran la masculinidad karai, que siguiendo la caracterización de Connell (2005) podríamos entender en términos de “masculinidad hegemónica”, y que tiene en las fiestas y la nocturnidad su expresión más performativa, cruda, potencialmente violenta.


En el entorno de la plaza se crean grupitos formados casi exclusivamente por hombres karai que comparten no solo trago, también cierta forma de hablar, mirarse, reírse, tocarse. Ocupan el espacio con una expresión corporal desinhibida que transpira una virilidad que contrasta con la presentación social del cuerpo masculino entre los guaraní. Abundan los insultos raciales (colla/camba/indio de mierda) junto a anécdotas, chistes, befas de contenido sexualizado en referencia no solo a las mujeres (hembras, hembritas, chichis, kunumis), también, con cierta insistencia, bromas hirientes al límite del juego entre los mismos interlocutores masculinos dirigidas a cuestionar la virilidad o heterosexualidad del receptor, reafirmando a la vez la del emisor. La metáfora de la hermandades o cofradías masculinas que utiliza Rita Segato (2018) para explicar el mandato masculino que los hombres renovamos constantemente ante otros hombres no podría ser aquí más pertinente.


¿Hasta qué punto mi integración temporal -en la ambivalente calidad de “observador participante” - en tales cofradías masculinas compensa lo que, de facto, no deja de ser aquiescencia cómplice con la expresión hegemónica de la masculinidad? Este tipo de preguntas me asaltan al revisar mis primeros años en el campo desde una perspectiva más atenta a las dinámicas de género, también, y especialmente, las que atraviesan y estructuran la masculinidad. En cualquier caso, fue en este tipo de ambientes nocturnos en que se conjuga alcohol, masculinismo y blanquitud cuando aparece el primer registro en mis diarios de campo de quien hoy conocemos como Ndereka Semonpiru. También la primera -y casi única- referencia a “homosexualidad guaraní”. Vale la pena, pues, reproducir el encuentro tal y como lo anoté entonces:


“Huyo del grupito karai y me encuentro con Semonpiru sentado en un banco. Ya lo tenía visto de asambleas guaraníes en favor de la autonomía indígena, pero nunca habíamos hablado. Criticamos a los karai. Parece un gran conocedor de la cultura guaraní. Es de los pocos que todavía hace máscaras con madera de toborochi. Ha venido hasta el pueblo para venderlas. No sé exactamente cómo, pero la conversación deriva hacía la homosexualidad entre los guaraníes. Me dice que él se define como “bisexual”. A su cuarentena y largos, nunca ha estado casado, tampoco tiene hijos. Vive solo en su comunidad. No ha confesado sus preferencias sexuales entre los guaraníes, pero sí que lo cuenta a los gringos como yo porque somos más abiertos, dice. La verdad es que los dos estamos un poco borrachos: él claramente más que yo y en diversos momentos trata de seducirme -anoté en el diario, sin problematizar tal percepción ni dar datos objetivos que lo avalen. Aunque le hago diversas preguntas de tono vagamente antropológico (del tipo si es más fácil ser homosexual en el pueblo que en la comunidad) no registro respuestas clarificadoras. Terminamos con otra gente más en el karaoke. Recuerdo poco. Una conversación sobre la plata de Potosí. Una discusión con un karai que, a pocos centímetros de mi oreja, me repetía que la culpa de todo la teníamos los españoles por no haber exterminado a todos los indios. También recuerdo que sonó Joaquín Sabina. Al menos tuve el decoro de no cantar. Creo”.

 

Semonpiru se reirá a carcajadas cuando en nuestro enésimo reencuentro, en octubre del 2023, le recuerde que nuestra relación empezó en un karaoke. Las cosas han cambiado bastante desde entonces. El karaoke del pueblo ha desaparecido. Semonpiru ha dejado (prácticamente del todo) el alcohol; le ayuda a ello su reciente adscripción a la Iglesia Evangélica Coreana, una de las últimas en instalarse en la comunidad. Mi paciencia y resistencia para compartir noches de trago con los karai de la plaza ha disminuido notablemente. Puede que tenga algo que ver cierto sentido de los límites y la responsabilidad alcanzado con mi recién adquirida condición de padre. Mi agenda de investigación también ha cambiado, sujeta a las veleidades laborales del incierto mundo posdoctoral: mi foco de atención ya no se centra específicamente en la política guaraní, la autonomía indígena, la construcción del Estado Plurinacional, sino que tiene ahora el género y sus diversas expresiones en el centro, algo que redirigirá las conversaciones con Semonpiru hacia nuevos lugares. Si hasta el momento no me había interesado especialmente, incluso había evitado profundizar más en su sexualidad– percibía cierta tensión e incomodidad recíproca – ahora, sin dejar de sentir tal tensión e incomodidad, indagaré en ello de forma quizás demasiado insistente. “Vos sos un loco Pedrito, solo sabes hablar de sexo”.


Llego a su casa tras cuatro horas de viaje en un coche colectivo desde el pequeño pueblo karai. Antes de llegar a la zona donde se encuentran las comunidades guaraníes, atravesamos las colonias agrícolas menonitas: decenas de quilómetros de desolación ecológica. Semonpiru me recibe en su casa visiblemente emocionado. Nos abrazamos. Me sorprende que cuelgue en su cuarto una bandera estelada catalana. Había olvidado que fue uno de los obsequios de mi última visita, en 2019.  Pero sobre todo me impresiona lo mucho que ha avanzado en la mejora de su casa, que es también su proyecto de vida, “mi mensaje”, dirá alguna vez. Fue a inicios del 2019 que Semonpiru dejó la casa en la que había vivido hasta entonces, construida al lado de la de sus padres y sus hermanas, para construirse él mismo -con barro y tabique, como todas las casas de la comunidad - una nueva vivienda más apartada de la comunidad, adentrada en el monte. Renunció incluso a la electricidad que desde hace poco prende luces y televisores de las comunidades de esta zona. Bautizó su nueva morada solitaria como Ivi Maraëi, Tierra Sin Mal.


En Ivi Maraëi Semonpiru cría chivas, pollos, gallinas e incluso un par de vacas; produce miel, harina de kupesi, champú de mistol y chicha con otros frutos de los que no logro registrar el nombre; teje con las técnicas ancestrales que le enseñó su abuela -demostrando que también los hombres, ciertos hombres, sirven para esta tarea eminentemente femenina. Sigue talando y vendiendo sus famosas máscaras de madera de toborochi. Pese a las sequías, intensificadas en los últimos años y que le han arruinado tres cosechas consecutivas de maíz, mantiene un chaquito con frutales. Su vivienda-proyecto-mensaje está adornada con flores y plantas variadas que le dan un aspecto singular y acogedor, quizás semejante al paraíso terrenal alcanzable en vida prometido por los profetas que, se supone, impulsaron las históricas migraciones tupi-guaraní hacia el Ivi Maraëi – Tierra Sin Mal, término-mito con un denso recorrido dentro de los estudios guaraníes (cf. Barbosa 2015) y que Semonpiru recoge y resignifica para su proyecto personal, pero también colectivo pues quiere convertir su Ivi Maraëi en un “centro turístico agro-ecológico”. “Que los changos vengan aquí a aprender”, que vean que en las comunidades se puede vivir de lo que se produce, que no es necesario partir al pueblo o la ciudad, seguir reproduciendo la larga historia guaraní de migraciones estacionales a la zafra del azúcar en Santa Cruz.


Foto do autor.


Foto do autor.

Me parece, escribiré en algún momento en mi diario de campo, que Semonpiru está haciendo el camino inverso que muchos guaranís:  alejarse en vez de tratar de acercarse a los beneficios materiales de la modernidad -lucientes, pero escasos y no siempre realmente accesibles. Instalo mis cosas en la que estos días será mi cama, que es normalmente la cama de Semonpiru. Él dormirá en otra más pequeña al lado. Afuera, en el patio, Semonpiru me espera con una botellita de licor Tres Plumas, en una muestra clara de la autonomía y flexibilidad desde donde interpreta los preceptos religiosos-morales evangélicos.


Brindamos por el reencuentro. Me explica que tras la muerte de su madre en 2020, en plena pandemia, enfermó. Diabetes. Depresión. Solitud. Me muestra un palo: “de él me servía para andar de tanto que había enflaquecido”. No puedo dejar de notar una tristeza profunda en sus ojos. Los cierra y pronuncia una suerte de oración en guaraní, recitada en un tono casi inaudible. Agradezco tu visita a los iya, los dueños del monte, me dice. Desvío la mirada cuando me parece ver lágrimas en sus ojos.  Hace como diez años que no tomaba, me dice. “A ver si vas a hacer que me emborrache Pedrito”.


 “Mucho me cuidaron mi abuela y mi mamá de pequeño, a veces pienso que es por eso que soy especial”. Que él es “especial”, muy especial, es algo en que insistirá en varios momentos de nuestras charlas en Ivi Marëi. De hecho, utilizará esta noción cuando, al final de mi estadía, poco antes de despedirnos -él vendrá hasta al pueblo karai para decirme adiós- me atreva a preguntarle si le importaría que escriba sobre él, no solo alrededor de sus conocimientos sobre la cultura guaraní, también sobre -no sé qué término utilicé exactamente– sus preferencias sexuales: “Está bien. Que se conozca que no todos somos iguales, que hay gente que somos especiales”. Quizás sea esta -un hombre especial- la categoría que mejor puede atrapar las múltiples aristas de su identidad, de su expresión de género y de su forma de preformar la masculinidad. En todo caso, me parece más oportuna que la categoría “bisexual”, en la que también se reconoce, pero que incide exclusivamente en una dimensión sexualizada de la identidad y que está, además, cargada de unos sentidos anclados a la expresión explicita y politizada de las opciones sexuales, propia del movimiento LGTBIQ, algo que, creo, escapa a su realidad inmediata, a su subjetividad.


En mi segunda noche en Ivi Marëi, noche de insomnio y calor sofocante, trataré de poner orden algunas de las múltiples ideas que me asaltan e inquietan en relación a la nueva temática que me lleva reencontrarme con Semonpiru: “ya se ha roto el tabú y hablamos de ello abiertamente, pero me parece que Semonpiru no está interesado en indagar en su sexualidad, o que esta no incide en su identidad. Tampoco el activismo LGTBI parece que le interpele. Semonpiru no busca tanto, o quizás no puede, autoexplorarse, liberar un deseo, expresarlo públicamente.   Asume la autocontención, la renuncia a vivir plenamente su sexualidad -la vida solitaria es parte de ello, su evangelismo quizás también- en el marco de unos equilibrios y pactos que permiten su aceptación en la comunidad, algo que implica renunciar a ciertas partes de tu individualidad (aun así -aparece entre paréntesis en mi libretita de campo- el mundo guaraní deja margen de expresión a la individualidad, a las personalidades heterodoxas)”. Se cierra así el paréntesis, y aparece la última reflexión que escribí aquella noche de clima infernal: “conoce la expresión salir del closet, pero no tengo la impresión que él se sienta encerrado en ninguno”.


Yo, me dirá en algún momento, me enamoro de las personas, no importa si son mujeres o hombres mientras, eso sí, sean inteligentes, educados, hablen bien, tengan buen corazón, sean dulces. De las mujeres, me dirá que también le gusta que se maquillen; de los hombres, que vistan con elegancia, como hace él, siempre impoluto pese los arenosos vendavales que azotan esta región. En cualquier caso, Semonpiru no reduce la expresión del amor y del afecto ni a la sexualidad ni tampoco al sexo: “Yo cuando me enamoro de alguien, Pedrito, quiero conversar, pasar mucho tiempo con él, compartir, conocernos, hablarle a los ojos. No quiero confundirme y que se confundan. Pero muchos se confunden. No por enamorarme de alguien es que vaya a querer acostarme con esta persona”. Me dice que sabe que hay límites. “Por ejemplo, Pedrito, yo te quiero, pero te lo puedo decir clarito porque sé que tú no te vas a confundir”. Asentiré, trataré de no bajar la mirada, quizás le diré gracias, pero no le diré que yo también le quiero, siento que sería una impostura encubridora de una relación constitutivamente asimétrica -al fin y al cabo estoy aquí para indagar analíticamente en las dimensiones más íntimas de su identidad; aunque quizás, al fin y al cabo, el problema es que no sé decir “te quiero” a otro hombre -menos aún si compartimos habitación- pues a mí también me aturden las potenciales confusiones.


A Semonpiru muchos otros, poco atentos a las sutilezas y matices de lo que implica ser un hombre especial, lo confuden con “maraco”, “maricón”, “culo batido”, “fresca”, “gay”, tales son algunas de las categorías émic que circulan en el mundo karai, utilizadas para señalar a quienes se escapan de la heteronormatividad y, otra vez desde la lógica de la cofradía masculina, reafirmar y probar la propia virilidad. Sin este énfasis degradante con la otredad, también en el mundo guaraní existen términos para referirse a la homosexualidad masculina: por ejemplo, tevi (literalmente, nalgas), un término que ya aparece para caracterizar a los “sodomitas” en el Tesoro de la Lengua Guaraní del célebre jesuita Fray Ruiz de Montoya, escrito en 1639 (cf. Chamorro 2009:226-227); o la expresión “kuña-kuña” (mujer-mujer), que he escuchado algunas veces para referirse a Semonpiru.  


Pero no todo son burlas, motes, estigmas. Además de ser considerado con respeto y cierta admiración -por sus conocimientos, creatividad y capacidad de auto-sustento- Semonpiru también genera atracción entre hombres que tratan de comunicarse con él, o que llegan a Ivi Maraëi en busca de algo que quizás no saben exactamente qué es o no saben cómo expresarlo o conseguirlo -me parece que aquí no existen códigos homoeróticos de seducción evidentes - pero que sienten que él se lo podrá dar, liberarles de algún modo, sacarles de la confusión. “Muchos son casados Pedrito. Un doctor. El conductor de la trufi. Un técnico de una ONG”. Incluso un menonita llegará un día a Ivi Maraëi, preguntándole por qué vive solo. Él juega con ellos -¿a quién no le gusta ser objeto de deseo?- pero me dice que los acaba rechazando, pues, insiste, busca a alguien especial.  En mi libretita -recordemos que hacía mucho calor y que este conduce al desaliento y cierto fatalismo -anotaré que lo que Semonpiru busca, quizás, simplemente no existe. 


Pere Morell i Torra
(investigador posdoctoral en la Haute école de travail social de Genève).

Pere Morell i Torra es doctor en antropología por la Universidad de Barcelona. Actualmente trabaja como investigador posdoctoral en la Haute école de travail social de Ginebra en el marco del proyecto de investigación colaborativo del Fondo Nacional Suizo “Queer and indigenous (dis)encounters: exploring multiple gender and sexual indigenous identities in Plurinational Bolivia”, dirigido por Anne Lavanchy.
BIBLIOGRAFÍA

 

Barbosa, Pablo Antunha. 2015. «La Tierra sin Mal: Historia de un mito». Suplemento Antropológico L(2): 7-236.

Chamorro, Graciela. 2009. Decir el cuerpo: Historia y etnografía del cuerpo en los pueblos Guaraní (Diccionario etnográfico histórico del guaraní, tomo 1). Asunción: Tiempo de Historia, Fondec, UFGD.

Connell, R. W. 2005. Masculinities. Berkeley, California: University of California Press.

Segato, Rita Laura. 2018. Contra-pedagogías de la crueldad. Buenos Aires, Argentina: Prometeo Libros.
[1]   La investigación necesaria para la escritura de este texto ha sido finanzada por el Fondo Nacional Suizo, en el marco del proyecto Queer and indigenous (dis)encounters: exploring multiple gender and sexual indigenous identities in Plurinational Bolivia.

< Voltar

Revista

Sobre

Equipa Editorial

Autores

Submissão de Artigos

Números

Agora

Sobre

Equipa Editorial

Artigos

Secções

Política de privacidade

Iscte-Instituto Universitário de Lisboa
Edifício 4 - Iscte_Conhecimento e Inovação, Sala B1.130 
Av. Forças Armadas, 40 1649-026 Lisboa, Portugal

(+351) 210 464 057
etnografica@cria.org.pt

Financiado pela FCT, I. P. (UIDB/04038/2020 e UIDP/04038/2020)

© 2025 Revista Etnográfica

Revista

Sobre

Equipa Editorial

Autores

Submissão de Artigos

Números

Agora

Sobre

Equipa Editorial

Artigos

Secções

Política de privacidade

Iscte-Instituto Universitário de Lisboa
Edifício 4 - Iscte_Conhecimento e Inovação, Sala B1.130 
Av. Forças Armadas, 40 1649-026 Lisboa, Portugal

(+351) 210 464 057
etnografica@cria.org.pt

Financiado pela FCT, I. P. (UIDB/04038/2020 e UIDP/04038/2020)

© 2025 Revista Etnográfica