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indigenous and afro-descendant women, solidarity, education, activism
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mulheres indígenas e afrodescendentes, solidariedade, educação, ativismo
Os movimentos sociais e as organizações de base lideradas por mulheres Indígenas e afrodescendentes na América Latina desempenham um papel central na defesa dos direitos civis, territoriais e ambientais: fundamentando o feminismo negro, indígena e latino-americano. Este artigo destaca as contribuições de quatro mulheres atuantes nas lutas pela igualdade de gênero e pelo acesso pleno às políticas públicas para uma educação inclusiva e libertadora. As conversas aconteceram no segundo painel do seminário internacional “Povos Indígenas e Afrodescendentes nas Américas: Colaboração, Arqueologia, Repatriação e Patrimônio Cultural”, na temática “Construindo Redes Afetivas Afroindígenas: Mulheres, Educação e Ativismo na América Latina”, com objetivos centrais para: (1) criar espaços de aprendizado que respeite as histórias indígenas e afrodescendentes e as formas de transmissão de conhecimentos pela oralidade; (2) estratégias de transformação do ensino formal através da inclusão da diversidade linguística e de metodologias que promovam o livre pensar; (3) fortalecer as iniciativas de solidariedade feminina. As “redes afetivas” estão no coração da transformação social em diferentes lugares no âmbito nacional e global e devem ser consideradas pelas arqueologias comunitárias.
mujeres indígenas y afrodescendientes, solidaridad, educación, activismo
Los movimientos sociales y organizaciones de base liderados por mujeres indígenas y afrodescendientes en América Latina juegan un papel central en la defensa de los derechos humanos y civiles, destacando los derechos territoriales y ambientales, apoyado desde los feminismos negros, indígenas y varias instancias del feminismo latinoamericano. Este artículo destaca los aportes de cuatro mujeres activas en las luchas por la igualdad de género y el pleno acceso a políticas públicas para una educación inclusiva y liberadora. Las conversaciones se desarrollaron en el segundo panel del seminario internacional “Pueblos Indígenas y Afrodescendientes en las Américas: Colaboración, Arqueología, Repatriación y Patrimonio Cultural”, sobre el tema “Construyendo Redes Afectivas Afroindígenas: Mujeres, Educación y Activismo en América Latina”, con objetivos centrales para: (1) crear espacios de aprendizaje que respeten los relatos indígenas y afrodescendientes y las formas de transmitir conocimientos a través de la oralidad; (2) estrategias para transformar la educación formal a través de la inclusión de la diversidad lingüística y metodologías que promuevan la libertad de pensamiento; (3) fortalecer las iniciativas solidarias femeninas. Las “redes afectivas” entre mujeres están en el centro de la transformación social a nivel nacional y global y deben ser consideradas por las arqueologías comunitarias.
femmes autochtones et afro-descendantes, solidarité, éducation, activisme
Les mouvements sociaux et les organisations de base dirigés par des femmes indigènes et afro-descendantes en Amérique latine jouent un rôle central dans la défense des droits humains et civils, en soulignant les droits territoriaux et environnementaux, soutenus par le féminisme noir, indigène et les différentes branches du féminisme latino-américain. Cet article met en lumière les contributions de quatre femmes actives dans la lutte pour l'égalité des sexes et le plein accès aux politiques publiques pour une éducation inclusive et libératrice. Les conversations ont eu lieu dans le cadre du deuxième panel du séminaire international « Indigenous and Afro-descendant Peoples in the Americas : Collaboration, archéologie, rapatriement et patrimoine culturel », sur le thème »Construire des réseaux affectifs afro-indigènes : Les femmes, l'éducation et l'activisme en Amérique latine », dont les principaux objectifs sont les suivants : (1) créer des espaces d'apprentissage qui respectent les récits autochtones et afro-descendants et les modes de transmission des connaissances par l'oralité ; (2) élaborer des stratégies visant à transformer l'éducation formelle en y intégrant la diversité linguistique et des méthodologies qui favorisent la liberté de pensée ; (3) renforcer les initiatives de solidarité entre les femmes. Les « réseaux affectifs » entre les femmes sont au centre de la transformation sociale aux niveaux national et mondial et devraient être pris en compte par les archéologies communautaires.
A secção Antropologia Urgente consiste em artigos em jeito de ensaio curto sobre temáticas prementes no duplo âmbito de uma antropologia da urgência e de uma antropologia dos afectos, mas igualmente que marquem agendas públicas ou que exploram realidades e fenómenos invisibilizados.
Os movimentos sociais e as organizações de base lideradas por mulheres Indígenas e afrodescendentes na América Latina desempenham um papel central na defesa dos direitos civis, territoriais e ambientais: fundamentando o feminismo negro, indígena e latino-americano. Este artigo destaca as contribuições de quatro mulheres atuantes nas lutas pela igualdade de gênero e pelo acesso pleno às políticas públicas para uma educação inclusiva e libertadora. As conversas aconteceram no segundo painel do seminário internacional “Povos Indígenas e Afrodescendentes nas Américas: Colaboração, Arqueologia, Repatriação e Patrimônio Cultural”, na temática “Construindo Redes Afetivas Afroindígenas: Mulheres, Educação e Ativismo na América Latina”, com objetivos centrais para: (1) criar espaços de aprendizado que respeite as histórias indígenas e afrodescendentes e as formas de transmissão de conhecimentos pela oralidade; (2) estratégias de transformação do ensino formal através da inclusão da diversidade linguística e de metodologias que promovam o livre pensar; (3) fortalecer as iniciativas de solidariedade feminina. As “redes afetivas” estão no coração da transformação social em diferentes lugares no âmbito nacional e global e devem ser consideradas pelas arqueologias comunitárias. “Quando nos aproximamos em solidariedade aos povos indígenas, encontramos modos de vida semelhantes aos nossos. Encontramos relações com a natureza semelhantes às nossas. Houve uma grande confluência em maneira e pensamentos. E isso nos fortaleceu. Fizemos uma grande aliança cosmológica, mesmo falando línguas diferentes.” Antônio Bispo dos Santos (2020)
Introdução
Daniela Balanzátegui e Marianne Sallum
“Construindo Redes Afetivas Afroindígenas: Mulheres, Educação e Ativismo na América Latina” é o segundo painel do seminário internacional “Povos Indígenas e Afrodescendentes nas Américas: Colaboração, Arqueologia, Repatriação e Patrimônio Cultural” (2023/2024). É uma colaboração entre instituições acadêmicas do Brasil e Estados Unidos: Laboratório Interdisciplinar de Pesquisas em Evolução, Cultura e Meio Ambiente (LEVOC/MAE/Universidade de São Paulo) e laboratórios Latin American Historical Archaeology e New England Indigenous Archaeology (departamento de Antropologia, Universidade de Massachusetts-Boston).
A conversa contou com as palestrantes Catarina Nimbopyruá Delfina dos Santos (Tupi Guarani, TI Pyátsagwêra, São Paulo, Brasil), María Celeste Sánchez Sugía (Ciudad de México, México), Katherine Chalá (territorio ancestral afroecuatoriano, Valle do Chota, Equador), Watatakalu Yawalapiti (Yawalapiti/Xingu, Brasil) e foi mediada por Valentina Romero, antropóloga e descendente da diáspora Muysca no Vale de Saquencipá, Boyacá, na região andina da Colômbia. Os comentários finais foram de Maria John (Japão) (2019), professora do departamento de História e diretora do programa de Estudos Nativos Americanos e Indígenas (Universidade de Massachusetts Boston) (mapa 1).
Mapa 1. Lugar de origem das palestrantes. Elaborado por Danielle Samia.
O painel foi coordenado por duas pesquisadoras latino-americanas: Marianne Sallum, que estuda comunidades de mulheres ceramistas e populações agroflorestais em São Paulo, Brasil (Sallum e Noelli 2021); Daniela Balanzátegui (Balanzátegui et al. 2021), que, através da arqueologia comunitária, colabora com mulheres cimarronas afro-equatorianas em processos de reparação histórica. Além de Stephen W. Silliman, que realiza pesquisas arqueológicas colaborativas com os eastern pequot em Connecticut, EUA, contribuindo para as demandas de reconhecimento territorial (Silliman 2008) e Astolfo Araujo, pesquisador sobre a ocupação do Sudeste do Brasil pelos primeiros grupos humanos que chegaram à América (Araujo et al. 2018).
Reconhecemos e honramos as terras do povo Massachusett, onde se encontra a Universidade de Massachusetts, Boston, e as comunidades vizinhas Nipmuc e Wampanoag; bem como os povos Tupi, Tupiniquim e Kaingang, onde se encontra a Universidade de São Paulo, e os territórios ancestrais de nossas palestrantes e moderadoras: o povo Tupi Guarani de São Paulo, os Yawalapiti no parque indígena do Xingu, a diáspora africana no México e Equador, e os territórios descendentes dos Muysca da Colômbia. Este painel foi dedicado à memória do pensador Antônio Bispo dos Santos.[9] Sua partida prematura deixa um vazio, mas seu legado como pensador das interações afroindígenas guia e inspira este evento e as novas gerações de estudantes e pensadores da contracolonização (Santos 2015, 2019, 2020). Ao longo de 532 anos, as interações tiveram variados entrelaçamentos e confluências surgidos de relações pessoais e/ou coletivas, através de alianças, parentescos, trocas, intimidades e conflitos. No entanto, o silenciamento das histórias indígenas e afrodescendentes pela burocracia colonial tem efeitos multidirecionais na sociedade, perpetuando as desigualdades em direitos e cidadania plena nas Américas, especialmente para as mulheres.
Fig. 1. Brincando nas Águas, Yacunã Tuxá (2021)
As interações afroindígenas enquadram-se em duas definições:
1. Definição de confluência de Santos (2019), que a descreve como a relação entre povos indígenas e afrodescendentes marcada pela troca de percepções baseadas na pluralidade e genealogias ancestrais, mas preservando suas diferenças.
2. Definição de solidariedade de Krenak (2015: 152), que estabelece que as sociedades indígenas são sociedades de aliança por excelência em relação à vida e à compreensão do mundo, “mas é preciso pensar nelas com muito cuidado, já que não são sociedades que aceitam o apagamento de sua identidade no mundo, nem a formação de um grupo homogêneo”.
Assim, a confluência e a solidariedade nada têm a ver com os discursos hegemônicos nacionais, nem as propostas do multiculturalismo, nem com as políticas de branqueamento e mestiçagem (Rahier 2022; Cruz 2021). Estas são perspectivas que devem ser entendidas localmente, nos contextos de fenômenos globais. As lutas contra os colonialistas por plenos direitos civis e igualdade de gênero são temas urgentes para os movimentos de mulheres indígenas e afrodescendentes na América Latina e além, especialmente nos contextos atuais de guerra e catástrofe climática, onde a violência contra mulheres e crianças é uma tática arraigada. Diante de tais circunstâncias, este seminário estabelece plataformas de colaboração intercultural, fortalecendo vínculos entre comunidades e academia para refletir sobre temas de interesse comum contra o racismo e a violência de gênero. Assim apresenta uma de nossas palestrantes, María Celeste Sánchez Sugía, senadora Afromexicana:
“Nossa resistência e resiliência demonstram que não desaparecemos, apesar de terem tentado nos apagar dos livros didáticos e da história. Nunca incluíram nosso nome nos lugares que ajudamos a construir, mas ainda estamos aqui com 2,5 milhões de pessoas. Temos um movimento afromexicano resiliente e estamos unindo forças com acadêmicos e aliados. Agora estamos construindo um esforço coletivo com os povos indígenas, pois muitos deles também foram ignorados e nossa história coletiva entre África, México e as comunidades indígenas foi apagada.”
Esta plataforma tem suas raízes em práticas ancestrais das mulheres de manter redes solidárias de troca, soberania alimentar e transmissão oral de conhecimentos entre gerações, reafirmando atos de resistência (Benites 2021), que ressoa com as reflexões de mulheres indígenas no Brasil e afro-equatorianas sobre os processos de educação local:
Catarina Nimbopyruá Delfina dos Santos (2023):[10]
“Eu era a única na minha aldeia que tinha o ensino médio completo e falava a língua materna. Fui escolhida pela comunidade para fazer o curso de magistério Indígena e a faculdade de pedagogia. Aprendi dentro de quatro paredes e, para os meus estudantes, eu não queria isso. Eu queria que fossem livres. Durante 12 anos, trabalhei como professora para o estado brasileiro. Meu supervisor e a secretaria de ensino não aceitavam que eu ensinasse os alunos com base na vivência com a natureza. Diziam que eu não podia contrariá-los porque eu era apenas empregada. Então, saí do trabalho, pois o que realmente importava para mim era o bem-estar das crianças, para que pudessem crescer como guerreiras da natureza.”
Katherine Chalá (2024, neste painel):
“A ideia é olhar para as comunidades cimarronas para entender como podemos construir sociedades livres; nesse sentido, temos o Centro de Pesquisa de Estudos da África e Afro-América – o primeiro no Equador, pelo menos na educação superior de nível de graduação, conectado a uma universidade intercultural formal e composto majoritariamente por jovens mulheres afrodescendentes. Este centro é o sonho cristalizado talvez de nossas ancestrais e ancestrais mais próximos. Então, neste espaço, reunimos, analisamos e revalorizamos os saberes, os aprendizados dessa luta de longo prazo em nossas comunidades, para poder registrá-los e estabelecer efetivamente um centro de pesquisa com uma ontologia e epistemologias próprias que aborda os aspectos políticos, culturais, sociais e econômicos da diáspora africana nas Américas e na África Subsaariana. Também se trata de visibilizar e dignificar as contribuições das pessoas afrodescendentes que construíram seus conhecimentos ao longo de séculos, e que foram transmitidos de geração em geração de forma oral.”
Watatakalu Yawalapiti (2024, neste painel):
“Eu era uma criança, mas já era uma voz para o meu povo e sempre quis que outras mulheres, outras meninas, tivessem a mesma voz e fossem ensinadas a serem líderes. É por isso que, quando fiquei mais velha, realmente me juntei aos esforços de outras lideranças regionais e nacionais para promover o empoderamento feminino entre as comunidades indígenas. Vi em diferentes territórios mulheres Indígenas sendo deixadas de lado porque, às vezes, os homens querem silenciar as vozes femininas. Sabemos que as mulheres em casa têm uma voz, mas, com a cultura não Indígena impactando nossos territórios, muitas vezes somos tratadas como alguém que não deve ser ouvido… Atualmente, temos o Movimento de Mulheres do Território Indígena do Xingu (MMTIX) com líderes de todos os territórios que fazem parte do nosso movimento.”
Como arqueólogas envolvidas em iniciativas comunitárias colaborativas, guiadas por uma perspectiva feminista, reconhecemos a importância de estabelecer pontes entre o conhecimento tradicional das mulheres indígenas e afrodescendentes e a arqueologia, para um acesso mais democrático e horizontal à pesquisa e ao diálogo de conhecimentos. Isso inclui parcerias impulsionadas por interesses comunitários para definir uma arqueologia ativa para que as pessoas contem sua história (Laluk et al. 2022; Tuxá et al. 2024; Romero et al. 2024) e que trabalha efetivamente em direção a uma pedagogia da descolonização (Atalay 2008).
Os movimentos sociais e as organizações de base lideradas por mulheres indígenas e afrodescendentes na América Latina desempenham um papel central na continuidade das estratégias de solidariedade, na preservação das práticas tradicionais e no cuidado e cultivo das florestas (Guajajara e Xakriabá apud McNee 2021; Guarani 2022 [2020]), formando a base do feminismo negro, indígena e latino-americano. Essas mulheres estão presentes em diversas instituições políticas e organizações nacionais e internacionais, como as Nações Unidas e seus governos locais e poderes executivo-legislativo. Também promovem o Projeto ATIX-Mulher,11] a Marcha das Mulheres Indígenas do Brasil,12] e a Coordenadora Nacional de Mulheres Negras do Equador,[13] para citar alguns exemplos. Esses são esforços efetivos e indispensáveis nas lutas em curso para promover a igualdade de gênero, a justiça econômica e ambiental, prevenir a violência histórica de raça, gênero e classe, e estabelecer o acesso a políticas para uma educação inclusiva e libertadora. Esses temas estão no centro das transformações sociais que ocorrem em diferentes países, territórios e comunidades no cenário global, destacando a necessidade de incluir esses temas em fóruns nacionais e internacionais, incluindo a produção de Humanidades e Arqueologia.
As palestrantes, antes de tudo, também nos apontam o reconhecimento das ações políticas e a construção de memórias históricas que nascem no centro da práxis como parte da ancestralidade emancipadora. Como escreve a pesquisadora feminista afro-equatoriana e militante antirracista Génesis Anangonó (2023: 68), essa memória traz consigo um caminho para a dignificação das descendentes, para a reparação e cura das dores ancestrais, pois estabelece conexões cronológicas entre o passado e o presente, permitindo que “a memória coletiva e individual sejam reescritas no corpo e reafirmadas no território que ocupam”.
Seminário/debate
Nesta seção, apresentamos um resumo audiovisual das intervenções das palestrantes deste evento, após uma breve introdução de cada uma delas.
Katherine Chalá, antropóloga e mestre em negociações e cooperação internacional, mantém uma agenda decolonial e antirracista a favor dos direitos humanos e das demandas dos afrodescendentes. Atualmente, é diretora do primeiro Centro de Estudos da África e Afroamérica do Equador e parte da Universidade Intercultural de Nacionalidades e Povos Indígenas Amawtay Wasi. É membro do Centro de Pesquisa da Família Negra e da Federação de Comunidades e Organizações Afrodescendentes de Imbabura.
María Celeste Sánchez Sugía, psicóloga e estudante de doutorado em Ciências Biomédicas (Universidade Nacional Autônoma do México – UNAM), líder na defesa dos direitos das pessoas afrodescendentes e migrantes, integrando as comissões de equidade de gênero do Instituto de Pesquisas Antropológicas (UNAM) e o coletivo Somos Listas. Em 2018, tornou-se a primeira mulher afromexicana a fazer parte do Senado, impulsionando várias ações de visibilização das populações afromexicanas.
Catarina Nimbopyruá Delfina dos Santos, líder da Aldeia Tapirema (terra indígena Pyátsagwêra, Tupi Guarani, São Paulo, Brasil). Tem formação superior intercultural pela Universidade de São Paulo. É uma ativista pioneira no movimento indígena ao nível estadual e nacional, especialmente na área de educação indígena, tendo atuado como subdiretora e docente. Como educadora, busca alternativas para construir escolas alinhadas com as demandas do fortalecimento comunitário.
Watatakalu Yawalapiti, líder do povo Yawalapiti da bacia alta do Xingu, coordenadora de Atix Mulheres e membro do Movimento de Mulheres do Território Indígena do Xingu. É cofundadora do coletivo ANMIGA e de abrigos para mulheres em seu território, trabalhando para lutar contra as práticas sexistas enraizadas nos costumes locais e fortalecer a cultura e a história de seu povo. Vídeo 1 – Valentina Romero
Vídeo 2 - Katherine Chalá
Vídeo 3 - María Celeste Sánchez Sugía
Vídeo 4 - Catarina Nimbopyruá Delfina dos Santos
Vídeo 5 - Watatakalu Yawalapiti
Reflexões da moderadora
Valentina Romero
Em Abya Yala/Turtle Island,[14] as comunidades indígenas, afrodescendentes e camponesas estão em tensão com os estados-nação, que têm buscado apagar nossas identidades, práticas ancestrais e relações com nossos territórios para promover suas noções de progresso através de múltiplos eixos de violência homogenizadora e racista. As violações sistemáticas dos direitos humanos são múltiplas em nossas histórias, mas, como demonstraram as palestrantes deste evento, também abunda nossa luta por melhorar nossas identidades e proteger nossos corpos-territórios da extração material, cultural e espiritual. Nessa luta ancestral, as mulheres são centrais desde o cotidiano até os espaços públicos e legislativos, levantando e liberando nossa voz para proteger a vida em nossas comunidades. Espaços como este rompem fronteiras impostas, demonstrando que a libertação coletiva está viva e é transnacional. Aqueles que habitam ambientes acadêmicos têm o dever de reformar as epistemologias coloniais opressivas e,[15] através do trabalho coletivo, germinar reparações históricas para cultivar um presente e um futuro humano, diverso e digno.
Comentários finais
Maria John
Não vejo meu trabalho aqui como tendo a palavra final, mas sim amplificando e enfatizando as lições, chamados à ação e a urgência de muitas coisas compartilhadas. Quero começar reconhecendo o quão inspirador foi ver a centralização das experiências e do trabalho das mulheres indígenas e afrodescendentes, que, especialmente em espaços acadêmicos, muitas vezes passam despercebidas, não são reconhecidas, não são engajadas, ou são cooptadas e reivindicadas por outros ou por instituições. Quando me convidaram para fazer parte desta conversa, me apresentaram a ideia do painel refletindo sobre como grande parte do ativismo e do trabalho das mulheres, especialmente das afrodescendentes e indígenas, é marginalizado ou completamente ignorado em representações, histórias e narrativas sobre o trabalho ativista. Isso se deve em parte ao domínio do inglês na publicação acadêmica, o que contribui para a marginalização de vozes latino-americanas. Vale a pena destacar que, mesmo na forma que este painel assume com sua tradução simultânea, o que testemunhamos hoje é um exemplo de como podemos fazer melhor dentro das instituições de ensino, saindo de estruturas e modalidades que são inerentemente reforçadoras do colonialismo ou de outras formas de dominação e exclusão. Mesmo que isso seja algo tão fundamental quanto engajar-se em uma língua diferente. Como várias de nossas painelistas notaram, as mulheres indígenas e afrodescendentes sempre, historicamente e hoje, estiveram fazendo o trabalho de ativismo para suas comunidades, muitas vezes sem muito apoio ou reconhecimento, às vezes até sob ameaça à sua segurança. Nossas painelistas também nos lembraram que não podemos perder de vista como as lutas das mulheres para manter seu lugar à mesa, mesmo dentro dos movimentos ativistas, têm sido e ainda são arduamente travadas. Então, como Katherine e María Celeste nos lembraram, existe a luta para combater a invisibilização, ocultamento e eliminação das contribuições e do trabalho em todos os níveis, mas sobretudo nos âmbitos políticos, acadêmicos e ativistas das mulheres na História. O que todas as palestrantes mostraram é que muitos dos sucessos alcançados dentro da política indígena, sejam lutas ambientais ou relacionadas ao acesso cultural, linguístico ou educacional, bem como a representação política, são resultados de esforços realizados e liderados por mulheres. Mas também que estas têm sido lutas intergeracionais e que as lutas continuadas hoje são ao mesmo tempo o legado de histórias de escravidão, deslocamento territorial, apagamento cultural e político, mas também o legado de longas histórias de resistência. Histórias intergeracionais de opressão e resistência foram exemplificadas por Katherine e María Celeste, destacando como os legados da escravidão impactam diretamente o status atual das comunidades afrodescendentes no Equador e no México, ilustrando continuidades intergeracionais de injustiças, bem como os processos de insurreição e resistência de longa data dos povos da região. Catarina e Watatakalu falaram sobre como suas experiências quando crianças e depois como jovens mulheres indígenas moldaram sua atração pelos movimentos políticos e ativismo que agora lideram. Elas continuaram as lutas ativistas de suas famílias e comunidades. Tudo isso enfatiza como o ativismo é simultaneamente uma escolha para muitas mulheres, mas também para muitas não é uma escolha, é simplesmente o que é necessário para a sobrevivência. Sobrevivência de culturas, línguas, comunidades, famílias, conhecimentos indígenas, sobrevivência da terra. Isso e a urgência compartilhada do ativismo indígena que aprendemos hoje também destacam a importância das redes e solidariedades dentro do ativismo político afroindígena. Ao colocar em primeiro plano as solidariedades globais da política indígena em nossa compreensão desses movimentos e suas histórias, penso que o que cada um dos painelistas e este fórum nos ajudam a ver tão claramente é como são muito pervasivas no tempo e no espaço as estruturas e sistemas duradouros do colonialismo em todas as suas formas hoje. Situando essas lutas atuais e seu ativismo no contexto mais amplo das lutas engajadas historicamente pelos povos indígenas em todo o mundo, somos lembrados pelas painelistas de que o colonialismo persiste e continua a estruturar nosso mundo. Seus efeitos, suas consequências, sua própria continuidade, evidenciados nos sistemas de capital, educação e poder institucional que continuam a privilegiar certas vozes. Ao centralizar as mulheres indígenas e afrodescendentes, suas comunidades, histórias, vozes e conhecimentos, este painel fornece um exemplo poderoso de como é importante e como é possível criar espaços institucionais que centralizem o conhecimento e as vozes indígenas. Da mesma forma, no trabalho ativista descrito por nossas painelistas, vemos quanto trabalho de base já está sendo feito e que também precisa de maior apoio para criar espaços para a representação indígena, seja em ambientes acadêmicos ou educacionais, médicos, políticos. Vale a pena considerar um possível chamado à ação, especialmente para aqueles de nós que trabalham no setor educacional, que acho que ouvimos em todas as histórias experiências e conhecimentos das painelistas que foram compartilhados hoje. Mas também no próprio modelo que foi estabelecido por este painel. Esta é a urgência e a importância de centralizar as vozes indígenas, afrodescendentes e afroindígenas. Como Watatakalu mencionou em seus comentários finais, essas são as comunidades que historicamente estiveram na linha da frente da destruição ambiental e territorial – o que, infelizmente, é um futuro que nos aguarda a todos. Portanto, como pensamento final, gostaria de compartilhar as palavras da anciã aborígene, Lilla Watson, uma mulher gangalu da região do rio Dawson em Queensland (Austrália). Watson, na Conferência da Década das Mulheres das Nações Unidas em Nairobi, em 1985, disse: “Se você veio aqui para me ajudar, está perdendo seu tempo. Mas se você veio porque sua libertação está ligada à minha, então vamos trabalhar juntos”. Acho que suas palavras e todo o conhecimento que aprendemos neste painel com as nossas incríveis palestrantes são algo que todos podemos levar conosco.
Agradecimentos
Aos colaboradores: departamentos de Antropologia e Estudos Indígenas e Nativos Americanos, de Estudos Africanos e Conservação da Segurança de Gênero e dos Direitos Humanos, de Estudos de Gênero e Sexualidade Humana da Universidade de Massachusetts-Boston. Danielle Samia pela parceria na elaboração dos mapas do seminário. À Fabiana Leite pela gentileza em ceder as fotografias e Luã Apiká pelo apoio e amizade. À Yacunã Tuxá pela maravilhosa ilustração. Ao Francisco S. Noelli pela revisão do texto. Aos estudantes de pós-graduação em Arqueologia Histórica (UMass-Boston), Andrea Chaves e Sara Jaramillo. A Cleberson Moura (MAE/USP) pelo suporte técnico e a produção dos vídeos. Citlalí Quecha Reyna e Carlos Lazcano Arce da UNAM, México. MS: FAPESP – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (2019/17868-0,2021/09619-0, 2019/18664-9). As autorias gostariam de agradecer aos editores da Etnográfica, especialmente Humberto Martins, Renata de Sá Gonçalves e Mafalda Melo Sousa.
Figura 2. Comunidade Tapirema, TI Pyátsagwêra (Piaçaguera) (Peruíbe). Oficina de revitalização linguística e assistência da fala de Catarina Nimbopyruá Delfina dos Santos no painel “Construindo Redes Afetivas Afroindígenas: Mulheres, Educação e Ativismo na América Latina”, seminário internacional “Povos Indígenas e Afrodescendentes nas Américas: Colaboração, Arqueologia, Repatriação e Patrimônio Cultural”. Na imagem: Renato Oliveira, Mariana Gonzaga e Idati Aparecida Lemos. Foto: Fabiana Leite, 2024.
Figura 3. Comunidade Tapirema, TI Pyátsagwêra (Piaçaguera) (Peruíbe). Oficina de revitalização linguística e assistência da fala de Catarina Nimbopyruá Delfina dos Santos no painel “Construindo Redes Afetivas Afroindígenas: Mulheres, Educação e Ativismo na América Latina”, seminário internacional “Povos Indígenas e Afrodescendentes nas Américas: Colaboração, Arqueologia, Repatriação e Patrimônio Cultural”. Na imagem: Idati Aparecida Lemos e Cristina Delfina dos Santos. Foto: Fabiana Leite, 2024.
Bibliografia
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[2] Balanzátegui, Daniela (daniela.balanzategui@umb.edu ) – Universidad de Massachusetts-Boston, Estados Unidos. ORCID: 0009-0005-3201-1251.
[3] Romero, Valentina (romeropradavalentina@gmail.com) – LAHALab - Universidad de Massachusetts-Boston, Estados Unidos. ORCID: 0009-0005-2176-4776
[4] Santos, Catarina Nimbopyruá Delfina dos (Scatarina769@gmail.com) – Tupi Guarani, Terra Indígena Piaçaguera, São Paulo, Brasil.
[5] Sugía, María Celeste Sánchez (celeste.sugia@gmail.com) - Universidade Nacional Autônoma do México/UNAM, Cidade do México, México.
[6] Yawalapiti, Watatakalu (watatakalu@gmail.com) – Yawalapiti, Xingu, Amazônia, Brasil.
[7] John, Maria (Maria.John@umb.edu) - Universidad de Massachusetts-Boston, Estados Unidos.
[8] Sallum, Marianne (marisallum@usp.br) – LEVOC, Universidade de São Paulo, Brasil; UNIARQ – Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa, Portugal. ORCID: 0000-0001-9210-2044.
[9] Antônio Bispo dos Santos (1959-2023) nasceu no Vale do Rio Berlengas, Piauí, Brasil. Foi educado através dos ensinamentos das mestras e mestres artesãos do Quilombo Saco-Curtume, localizado no município de São João do Piauí. É autor de artigos, poemas e do livro Colonização, Quilombos: Modos e Significações (2015). Como líder Quilombola, desempenhou um papel destacado na Coordenação Estadual das Comunidades Quilombolas do Piauí (CECOQ/PI) e na Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ). Destaca-se pelo seu compromisso político e ativismo, que estão estreitamente ligados à sua formação quilombola, refletindo uma cosmovisão a partir da qual os povos defendem seus territórios tradicionais, símbolos, significados e modos de vida. (ver: Enciclopédia de Antropologia, Universidade de São Paulo. Disponível em https://ea.fflch.usp.br/autor/antonio-bispo-dos-santos, último acesso em julho de 2024).
[10] Disponível em https://youtube.com/playlist?list=PL3QczBZ6WxxkbaUfogYBadLjdT0uraLWc&feature=shared (último aceesso em julho de 2024).
[12]Articulação Nacional de Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade. Disponível em: https://anmiga.org/marcha-das-mulheres/ (último acesso em julho de 2024).
[14] A Ilha da Tartaruga, segundo algumas histórias orais indígenas, refere-se à América do Norte (Snyder 1974), enquanto Abya Yala, que significa “terra em maturação” na língua Kuna, é utilizada no ativismo indígena para se referir ao continente americano, particularmente à América Latina; ambos os termos desafiam os nomes coloniais e às vezes podem ser usados de maneira intercambiável para se referir aos territórios ancestrais indígenas nas Américas.
[15] Os marcos epistemológicos enraizados no pensamento colonial justificaram historicamente sistemas opressivos, como as hierarquias de castas racializadas, ao valorizar o conhecimento dos colonizadores acima do dos colonizados, desumanizando e despojando os grupos marginalizados sob a aparência de progresso, desenvolvimento capitalista e produção. (Tuhiwai Smith 2021: 67-79).