Editorial
Humberto Martins
A Etnográfica celebra os 50 anos do 25 de Abril de 1974. Não podia deixar de ser. Abril abriu, em Portugal e no Mundo, muitas portas para as Ciências Sociais. Áreas de saber vistas como perigosas e ameaçadoras do statu quo de regimes opressores
[+]Editorial
Sónia Vespeira de Almeida, João Leal e Emília Margarida Marques
Este número da Etnográfica, comemorativo dos 50 anos do 25 de Abril, procura associar a comunidade dos antropólogos – professores, investigadores, profissionais da antropologia, antigos estudantes ou atuais estudantes – à evocação das
[+]Etnografias da revolução em revista
José Cutileiro
Quando na Primavera de 1970 acabei de escrever A Portuguese Rural Society, estava convencido de que a fase de história económica e social do Alentejo iniciada no segundo quartel do século XIX teria ainda longos anos à sua frente e que as
[+]Etnografias da revolução em revista
Sandra McAdam Clark e Brian Juan O’Neill
This paper1 has two main purposes: (a) to present some preliminary results from S. McAdam Clark’s recent research on the agrarian reform and related developments in Southern Portugal, and (b) to set forth a critique of José Cutileiro’s specific
[+]Etnografias da revolução em revista
Caroline B. Brettell
In October of 1973, the newly organized International Conference Group on Modern Portugal, spearheaded by Douglas Wheeler (historian), Joyce Riegelhaupt (anthropologist) and others, held its first meeting on the campus of the University of New
[+]Imagens do país em 1974-1976: ensaio de antropologia visual
Clara Saraiva
A “equipa maravilha” da antropologia portuguesa do século XX formou-se em torno da figura de António Jorge Dias, que completou na Universidade de Munique, em 1944, um doutoramento em Etnologia, com a tese Vilarinho da Furna, Um Povo
[+]Antropologia e revolução: do ISCSPU ao ISCSP (1974-1976)
João Leal
No dia 27 de abril de 1974 – dois dias depois do 25 de Abril – caiu o “U” de ISCSPU (Instituto Superior de Ciências Sociais e Política Ultramarina), renomeado no mesmo dia ISCSP (Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas).
[+]Antropologia e revolução: do ISCSPU ao ISCSP (1974-1976)
Filipe Ramires
O clima repressivo que perpassava pela Academia de Lisboa nos anos anteriores ao 25 de Abril de 1974 também se fazia sentir no então ISCSPU. O controlo político-repressivo efectuado pela direcção da escola, nomeadamente através de certos
[+]Antropologia e revolução: do ISCSPU ao ISCSP (1974-1976)
Luís Souta
Entrei na universidade em 1970, depois de ter realizado, em finais de Outubro, o “exame de admissão”, escrito e oral – Língua e Literatura Portuguesa e Geografia Geral, segundo as “matérias estabelecidas no programa oficial do 7.º ano
[+]Antropologia e revolução: do ISCSPU ao ISCSP (1974-1976)
Dulcinea Gil
Terminado o liceu (ensino secundário) da alínea B, no Liceu Nacional de Faro, fui para Lisboa, a fim de frequentar o curso de Filologia Germânica da Faculdade Letras da Universidade de Lisboa.1 Fiquei desiludida com o curso quando percebi que, ao
[+]Antropologia e revolução: do ISCSPU ao ISCSP (1974-1976)
Maria da Luz Alexandrino
Em Lisboa sentia-se electricidade no ar – estava tudo de nervos em franja. Informações sussurradas nos cafés e nas esquinas sobre movimentos de militares, especialmente de capitães democráticos; sobre a tentativa de golpe de Março nas Caldas
[+]Antropologia e revolução: do ISCSPU ao ISCSP (1974-1976)
José Fialho Feliciano
Em 25 de Abril de 1974 estudava em várias universidades de Paris, modeladas, de formas diferentes, pelos ventos de mudança de Maio de 1968. Em Jussieu (Paris VII – Faculté des Sciences) fizera o bacharelato (DEUG) em Ciências da Sociedade,
[+]Antropologia e revolução: do ISCSPU ao ISCSP (1974-1976)
José Cardim
Foi em 1960 que, estando eu em Angola e interno numa escola no Sul do país, sucedeu no Norte a primeira “insurreição moderna” nas colónias portuguesas. Tinha antes vivido e estudado em Lisboa, em Luanda, Lourenço Marques e… no
[+]Antropologia e revolução: do ISCSPU ao ISCSP (1974-1976)
José Neves
Para aquele lisboeta que descobriu que já não tinha creme de barbear em casa, o dia 25 de abril de 1974 começou mal. Ainda assim, o homem saiu à rua e foi aí e então que se inteirou do que estaria a acontecer na cidade: uma revolução. Os
[+]Etnografias da revolução, hoje
Sónia Vespeira de Almeida
Este artigo interroga as práticas artísticas na revolução no quadro das Campanhas de Dinamização Cultural e Acção Cívica do MFA (1974-1975). Parte da revisitação de um corpus de dados recolhidos no âmbito de uma investigação publicada
[+]Etnografias da revolução em revista
Elsa Peralta e Bruno Góis
Com o fim do império colonial, na sequência da Revolução do 25 de Abril de 1974, as fronteiras e a identidade da nação portuguesa são redefinidas. Neste contexto, foram repatriados das ex-colónias para Portugal cerca de meio milhão de
[+]Etnografias da revolução, hoje
Inês Ponte
Ao lidar com as convulsões políticas do passado de Angola, a obra literária mais tardia do antropólogo Ruy Duarte de Carvalho (1941-2010), angolano de origem portuguesa, proporciona refletir sobre a revolução dos cravos em Portugal. Não é
[+]Etnografias da revolução, hoje
Pedro Gabriel Silva
Na sequência da revolução de 25 de Abril de 1974, uma aldeia do concelho de Belmonte foi palco, durante seis anos, de um conflito que opôs um grupo de proprietários minifundiários e parte da comunidade a uma empresa mineira. Neste artigo,
[+]Etnografias da revolução, hoje
Cristina Pratas Cruzeiro, Ricardo Campos e Cláudia Madeira
Neste artigo pretendemos revisitar um dos palcos privilegiados para a expressão dos cidadãos – a rua e o espaço público urbano – a partir do legado das pichagens e murais realizados durante o período revolucionário do 25 de Abril de 1974
[+]O que gostarias de ter estudado em 1974?
Nuno Domingos
O presente é uma condição inevitável da produção de uma investigação que responda ao desafio da Etnográfica: escrever um ensaio acerca do que gostaria de pesquisar se tivesse tido a oportunidade de acompanhar in loco a revolução de 25 de
[+]O que gostarias de ter estudado em 1974?
Ruy Llera Blanes
É já um lugar-comum afirmar o papel fulcral que o 25 de Abril de 1974 teve no processo de descolonização das colónias portuguesas em África, nomeadamente no que diz respeito à incorporação da descolonização como desígnio do programa do
[+]O que gostarias de ter estudado em 1974?
Patrícia Alves de Matos
Se pudesse escolher uma temática de investigação sobre o período revolucionário português, qual seria? Foi este o desafio que os editores me colocaram. Inicialmente pensei em velhas ideias que tinha tido quando terminei a minha licenciatura em
[+]O que gostarias de ter estudado em 1974?
Marta Prista
Avril au Portugal. Pela mão do Comissariado de Turismo, o Estado Novo promoveu a viagem a Portugal recebendo os estrangeiros no dia do turista com flores, souvenirs e sorrisos de jovens trajadas à imagem do país que se queria.2 Em 1974, uns dias
[+]O que gostarias de ter estudado em 1974?
Constança Arouca
A caminho da exposição do Mário Cesariny, no MAAT, e já com a capa da celebração dos 50 anos do 25 de Abril em mente, pela primeira vez estive a observar com atenção a intervenção dos 48 artistas, na reinterpretação de 2022 do mural do
[+]Found in Translation
Francisco Freire
A Etnográfica inicia com este número uma nova proposta editorial. “Found in Translation” é uma secção concebida para dar espaço a mais antropologias, apontando a essa diversidade epistemológica reclamada na construção de um campo ele
[+]Found in Translation
Abdellah Hammoudi
Alguns leitores podem com razão interrogar-se quanto ao efetivo significado da expressão “antropologia em língua árabe”, uma vez que esta, ainda que cuidadosamente escolhida por mim, comporta diferentes significados, alguns deles
[+]Artigos
Carlos Hernández-Fernández
Desde mediados del siglo XX se venían documentando en Galicia y Portugal algunas romerías de carácter religioso y festivo en los que se usaban símbolos de carácter funerario como forma de ofrenda para agradecer milagros o rogar para que estos
[+]Artigos
Camilo Andrés Salcedo Montero
No artigo, apresento os resultados de uma pesquisa etnográfica que analisa os efeitos sociais sobre as comunidades camponesas (dedicadas ao trabalho da terra e a pescaria no rio) pela entrega das compensações e a realização das obras na
[+]Artigos
Antonio Guerreiro
O objetivo deste artigo é compreender como os Kalapalo, um povo falante de língua karib do Alto Xingu (Amazônia meridional), descreve suas relações com suas terras tradicionais em narrativas e depoimentos pessoais sobre sua ocupação da área
[+]Historia de la Antropología
Ricardo Santos Alexandre
Este ensaio regressa a um texto clássico da antropologia, “Culture, genuine and spurious” de Edward Sapir, tomando-o como parceiro de diálogo e de reflexão sobre a noção de cultura. Em “Culture, genuine and spurious”, Sapir mostra-se
[+]Interdisciplinariedad
Ion Fernández de las Heras
Partindo de una serie de consideraciones relacionadas con mi trabajo de campo en el medio rural del País Vasco, sugiero que la coincidencia conceptual entre la arquitectura y lo construido puede acarrear obliteraciones indeseadas para quien se
[+]Dossiê "Futuros em disputa: abordagens teórico-metodológicas sobre o porvir nas periferias do Sul Global"
Paula Godinho e Raúl H. Contreras Román
A antropologia tem proposto alternativas para pensar os modos pelos quais o passado afeta o presente, sem dar igual importância às múltiplas maneiras pelas quais os futuros socialmente imaginados o fazem. Trabalhos recentes têm-no indagado no
[+]Dossiê "Futuros em disputa: abordagens teórico-metodológicas sobre o porvir nas periferias do Sul Global"
Berenice Vargas García e David Varela Trejo
Hace poco más de diez años, la academia antropológica del Norte global bautizó con el nombre de “multiespecie” a un modo de estudio y escritura que descentra lo humano y que, en la investigación, presta atención a la fuerza sociocultural y
[+]Dossiê "Futuros em disputa: abordagens teórico-metodológicas sobre o porvir nas periferias do Sul Global"
Saraya Bonilla Lozada
Este artículo reflexiona junto a campesinas-defensoras del territorio en el Bajo Putumayo, al sur de Colombia. Retoma sobre sus narrativas de futuro y la comprensión del tiempo y espacio que elaboran desde su saber encarnado. Concretamente
[+]Dossiê "Futuros em disputa: abordagens teórico-metodológicas sobre o porvir nas periferias do Sul Global"
Julián Dzul Nah
Este texto expone los modos en que algunos habitantes o emigrados de Tixcacal Quintero (Yucatán, México), recuerdan el pasado henequenero del pueblo e imaginan sus futuros. En un contexto posterior a emigraciones disparadas a mitad del siglo
[+]Dossiê "Futuros em disputa: abordagens teórico-metodológicas sobre o porvir nas periferias do Sul Global"
Norma Bautista Santiago
En la lengua mixteca o Tu’un Savi la palabra futuro no existe, sin embargo, entre las personas que se asumen parte del Pueblo de la Lluvia o Ñuu Savi; población de origen indígena en el sur de México, existen la noción de lo que pasará
[+]Dossiê "Futuros em disputa: abordagens teórico-metodológicas sobre o porvir nas periferias do Sul Global"
Raúl H. Contreras Román
Neste artigo analisam-se os “sonhos humildes” enquanto modelo local de futuro imaginado que emerge de conversas diversas e historicamente situadas na construção de sentidos comuns que possibilitem às pessoas imaginar outras vidas possíveis e
[+]Dossiê "Futuros em disputa: abordagens teórico-metodológicas sobre o porvir nas periferias do Sul Global"
João Carlos Louçã
Após o fim da Guerra Fria e do bloco soviético, os anos 90 do século passado prometeram a expansão do capitalismo aos mais recônditos cantos do planeta. A globalização era a forma como o liberalismo económico assumia esse propósito
[+]Recursos
Juliana Carneiro and Thiago Allis
O objetivo deste trabalho é identificar e analisar as relações entre mobilidades, etnografia e turismo, a partir de uma revisão integrativa da literatura. Busca-se, em particular, o emprego de metodologias etnográficas utilizadas no campo das
[+]The Cut
Francisco Martínez
Este artigo investiga os tipos de coisas que são guardadas e as práticas que têm lugar em diferentes caves, a fim de refletir sobre regimes alternativos de visibilidade na Estónia Oriental. A utilização de infra-estruturas de ocultação faz
[+]The Cut
Mariana Tello Weiss
El texto resulta sumamente inspirador tanto desde el punto de vista teórico como metodológico. El mismo propone una etnografía de los sótanos en Sillamäe, un pequeño poblado de Estonia oriental. Un pueblo que, por su historia – signada por
[+]The Cut
Tamta Khalvashi
"Onde é que há um bunker?" Esta pergunta começou a assombrar muitos de nós nas cidades da Geórgia, quando a Rússia invadiu a Ucrânia em fevereiro de 2022. A procura de bunkers, caves e abrigos, de espaços de opacidade e de segurança, foi
[+]The Cut
Hermione Spriggs
"O opaco não é o obscuro" (Glissant 1997:191). É assim que começa o texto de Francisco Martínez sobre as caves, que ele aborda como espaços de opacidade que podem, no entanto, ser explorados etnograficamente. O aparente paradoxo que Martínez
[+]The Cut
Patrick Laviolette
Francisco Martínez começa o seu ensaio com uma citação de Édouard Glissant. Poderia muito bem ter escolhido algo da Poética do Espaço (1958) de Gaston Bachelard ou de Hiding in the Light (1988) de Dick Hebdige para apresentar o que se
[+]In an attempt to distance myself from the tourists' naked bodies, I decided to order some dresses from Arna, the village seamstress. Even so, throughout the research, my body and the way it was covered or uncovered continued to be the object of observation, not only by the villagers, but also by the tourists. The latter, for being "overdressed", even heard comments like: "Don't take this the wrong way, but the Portuguese are very conservative, aren't they?".
DOI: https://doi.org/10.25660/agora0002.0xhb-wr26
Na tentativa de me distanciar dos corpos desnudados dos turistas e integrar-me, decidi encomendar alguns vestidos à Arna, a costureira da aldeia. Ainda assim, ao longo de toda a pesquisa, o meu corpo e o modo como era tapado ou destapado continuaram a ser objeto de observação, não só pelos habitantes das aldeias, mas também pelos turistas. Os últimos, por andar “demasiado” vestida, chegando a ouvir comentários como: “Não leves a mal, mas os portugueses são muito conservadores, não são?”
DOI: https://doi.org/10.25660/agora0002.0xhb-wr26
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Fig. 2 – “Pescador Pagi a levantar uma rede”. Imagem capturada pela investigadora. Fotografia digital.
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Fig. 4 – “O casamento”. Retrato fotográfico da investigadora e do seu marido capturado por uma interlocutora Pagi. Fotomontagem e edição de imagem com recurso a mesa gráfica efetuada pela investigadora no Adobe Photoshop.
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