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Vol. 29 (2)
2025



Artigos

Quebra-cabeças de narciso: a etnografia defronta-se com o delírio e se “hospeda” no Hotel da Loucura – Rio de Janeiro

Luciano von der Goltz Vianna

O presente artigo parte de um debate que visa compreender como os regimes disciplinares da antropologia conduzem o pesquisador a seguir um protocolo específico de questões e interesses em suas pesquisas. O objetivo, aqui, é discutir sobre os

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Artigos

Detrás de niñxs, objetos y cuises: agencia e investigación en un barrio periurbano de Córdoba (Argentina)

Rocío Fatyass

En este artículo retomo emergentes de un proyecto de investigación con niñxs que tiene lugar en un barrio periurbano de la ciudad de Villa Nueva (Córdoba, Argentina) y discuto sobre la agencia infantil y la participación de lxs niñxs en

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Artigos

A propósito da construção de conhecimentos sobre o ecossistema amazônico a partir de uma instituição científica brasileira

Aline Moreira Magalhães

A produção de um saber moderno acerca da flora e fauna amazônicas incorpora, desde as expedições naturalistas do século XVIII, conhecedores e conhecedoras por vivência daquele ecossistema. No Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia

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Interdisciplinariedad

Viver numa casa do Siza: a experiência da arquitetura de autor na Malagueira, Évora

Juliana Pereira, Ana Catarina Costa, André Carmo, Eduardo Ascensão

Este artigo retoma os estudos sobre a casa e o habitar desenvolvidos pela Antropologia e pela Arquitetura portuguesas, acrescentando-lhes um olhar vindo das geografias da arquitetura, para de seguida explorar a forma como os habitantes de edifícios

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Dossiê “Beyond penal populism: complexifying justice systems and security through qualitative lenses”

Introduction: Beyond penal populism: complexifying justice systems and security through qualitative lenses

Annabelle Dias Félix, Maria João Leote de Carvalho, Catarina Frois

In the global political landscape, as far-right parties gain prominence, populist rhetoric advocating for harsher justice and security policies is becoming increasingly prevalent. Proponents of this rhetoric base their discourse on “alarming”

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Dossiê “Beyond penal populism: complexifying justice systems and security through qualitative lenses”

Privatizing urban security: control, hospitality and suspicion in the Brazilian shopping

Susana Durão, Paola Argentin

In this article we argue that hospitality security – a modality that confuses control and care – operates through the actions of security guards in the creation of what we call pre-cases. From a dense ethnography accompanying these workers in a

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Dossiê “Beyond penal populism: complexifying justice systems and security through qualitative lenses”

“Abuso policial, todos os dias o enfrentamos”: notas etnográficas sobre violência policial racista

Pedro Varela

A violência policial racista é uma das facetas mais brutais do racismo na nossa sociedade, refletindo estruturas de poder e opressão que marginalizam setores da sociedade. Este artigo sublinha a importância de compreender essa realidade,

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Dossiê “Beyond penal populism: complexifying justice systems and security through qualitative lenses”

Marginality, security, surveillance, crime, imprisonment: reflections on an intellectual and methodological trajectory

Catarina Frois

This article engages with contemporary anthropological and ethnographic methodological debates by reflecting on the challenges of conducting research in contexts related with marginality, deviance, surveillance, and imprisonment. It examines the

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Dossiê “Beyond penal populism: complexifying justice systems and security through qualitative lenses”

Navigating the labyrinth: qualitative research in the securitized border regions of North Africa

Lydia Letsch

Qualitative researchers face unique challenges in the dynamic domain of border regions, particularly when venturing into highly securitized areas with a constant military presence, advanced surveillance, and restricted access zones. This article

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Memoria

Uma vida, muitas vidas: entrevista com Victor Bandeira, etnógrafo e viajante

Rita Tomé, João Leal

Falecido recentemente, Victor Bandeira (1931-2024) desempenhou um papel fundamental no desenvolvimento da museologia etnográfica em Portugal. Foi graças às suas expedições a África (1960-1961, 1966, 1967), ao Brasil (1964-1965) e à Indonésia

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Premio Lévi-Strauss

Da “nota de pesar” à “injusta agressão”: notícias sobre morte escritas pela PMSC

Jo P. Klinkerfus

Este trabalho é uma versão reduzida e sintetizada da etnografia realizada do PMSC Notícia, a plataforma de notícias da Polícia Militar de Santa Catarina (PMSC). A partir das notícias sobre a morte, o morrer e os mortos publicadas no site no

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Vol. 29 (1)
2025



artigos

“Chega desta falsa guerra”: ecologias de valor, operários e ambientalistas na Itália do Sul

Antonio Maria Pusceddu

Este artigo mobiliza as ecologias de valor como um quadro concetual para dar conta dos conflitos, contradições e dilemas decorrentes da experiência da crise socioecológica contemporânea. Baseia-se num trabalho de campo etnográfico em Brindisi,

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artigos

“Evitar que queden a la deriva”: desafíos de la práctica profesional en el sistema de salud mental argentino para niños/as y adolescentes

Axel Levin

Esta investigación etnográfica aborda las dificultades, prácticas, y estrategias de los/las profesionales del único hospital argentino especializado, íntegramente, en el tratamiento de problemáticas en salud mental de niños, niñas, y

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artigos

Fazendo Crianças: uma iconografia das ibejadas pelos centros, lojas e fábricas do Rio de Janeiro, Brasil

Morena Freitas

As ibejadas são entidades infantis que, junto aos caboclos, pretos-velhos, exus e pombagiras, habitam o panteão da umbanda. Nos centros, essas entidades se apresentam em coloridas imagens, alegres pontos cantados e muitos doces que nos permitem

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artigos

Migrar y seguir perteneciendo: intimidad, ausencia eclesiástica y competencia lúdica en la Anata-Carnaval aymara de Chiapa (Chile)

Pablo Mardones

El artículo analiza la fiesta de la Anata-Carnaval en el pueblo precordillerano Chiapa en la región de Tarapacá, Norte Grande de Chile. Se sugiere que esta celebración se constituye como evento principal de reproducción de sentidos de

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artigos

Hauntology e nostalgia nas paisagens turísticas de Sarajevo

Marta Roriz

Partindo de desenvolvimentos na teoria etnográfica e antropológica para os estudos do turismo urbano, este ensaio oferece uma descrição das paisagens turísticas de Sarajevo pela perspetiva do turista-etnógrafo, detalhando como o tempo se

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Memoria

David J. Webster em Moçambique: epistolário mínimo (1971-1979)

Lorenzo Macagno

O artigo comenta, contextualiza e transcreve o intercâmbio epistolar que mantiveram, entre 1971 e 1979, o antropólogo social David J. Webster (1945-1989) e o etnólogo e funcionário colonial português, António Rita-Ferreira (1922-2014).

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Dossier «Género y cuidados en la experiencia transnacional caboverdiana»

Género e cuidados na experiência transnacional cabo-verdiana: introdução

Luzia Oca González, Fernando Barbosa Rodrigues and Iria Vázquez Silva

Neste dossiê sobre o género e os cuidados na comunidade transnacional cabo-verdiana, as leitoras e leitores encontrarão os resultados de diferentes etnografias feitas tanto em Cabo Verde como nos países de destino da sua diáspora no sul da

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Dossier «Género y cuidados en la experiencia transnacional caboverdiana»

“Vizinhu ta trocadu pratu ku kada casa”… Cuidar para evitar a fome em Brianda, Ilha de Santiago de Cabo Verde

Fernando Barbosa Rodrigues

Partindo do terreno etnográfico – interior da ilha de Santiago de Cabo Verde – e com base na observação participante e em testemunhos das habitantes locais de Brianda, este artigo é uma contribuição para poder interpretar as estratégias

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Dossier «Género y cuidados en la experiencia transnacional caboverdiana»

“Eu já aguentei muita gente nessa vida”: sobre cuidados, gênero e geração em famílias cabo-verdianas

Andréa Lobo and André Omisilê Justino

Este artigo reflete sobre a categoria cuidado quando atravessada pelas dinâmicas de gênero e geração na sociedade cabo-verdiana. O ato de cuidar é de fundamental importância para as dinâmicas familiares nesta sociedade que é marcada por

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Dossier «Género y cuidados en la experiencia transnacional caboverdiana»

Cadeias globais de cuidados nas migrações cabo-verdianas: mulheres que ficam para outras poderem migrar

Luzia Oca González and Iria Vázquez Silva

Este artigo toma como base o trabalho de campo realizado com mulheres de quatro gerações, pertencentes a cinco famílias residentes na localidade de Burela (Galiza) e aos seus grupos domésticos originários da ilha de Santiago. Apresentamos três

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Dossier «Género y cuidados en la experiencia transnacional caboverdiana»

El difícil equilibrio entre trabajo y vida: arreglos para el cuidado de tres generaciones de migrantes caboverdianas

Keina Espiñeira González, Belén Fernández-Suárez and Antía Pérez-Caramés

La conciliación de las esferas personal, laboral y familiar de las personas migrantes es un tema emergente en los estudios migratorios de mano de conceptos como el de familia transnacional o las cadenas globales de cuidados. En esta contribución

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Debate

Estrangeiros universais: a “viragem ontológica” considerada de uma perspetiva fenomenológica

Filipe Verde

Este artigo questiona a consistência, razoabilidade e fecundidade das propostas metodológicas e conceção de conhecimento antropológico da “viragem ontológica” em antropologia. Tomando como ponto de partida o livro-manifesto produzido por

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Debate

Universos estrangeiros: ainda a polêmica virada ontológica na antropologia

Rogério Brittes W. Pires

O artigo “Estrangeiros universais”, de Filipe Verde, apresenta uma crítica ao que chama de “viragem ontológica” na antropologia, tomando o livro The Ontological Turn, de Holbraad e Pedersen (2017), como ponto de partida (2025a: 252).1 O

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Debate

Resposta a Rogério Pires

Filipe Verde

Se há evidência que a antropologia sempre reconheceu é a de que o meio em que somos inculturados molda de forma decisiva a nossa compreensão do mundo e de nós mesmos. Isso é assim para a própria antropologia e, portanto, ser antropólogo é

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Debate

Da ontologia da fenomenologia na antropologia: ensaio de resposta

Rogério Brittes W. Pires

Um erro do construtivismo clássico é postular que verdades alheias seriam construídas socialmente, mas as do próprio enunciador não. Que minha visão de mundo, do fazer antropológico e da ciência sejam moldadas por meu ambiente – em

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Nota sobre la cubierta

Nota sobre la cubierta

Pedro Calapez

© Pedro Calapez. 2023. (Pormenor) Díptico B; Técnica e Suporte: Acrílico sobre tela colada em MDF e estrutura em madeira. Dimensões: 192 x 120 x 4 cm. Imagem gentilmente cedidas pelo autor. Créditos fotográficos: MPPC / Pedro

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La provincialización de los proyectos económicos ortodoxos: porosidades, relaciones y moralidades

Patrícia Alves de Matos

24.09.2024

The severe human and social effects of the 2008 financial crisis, subsequently intensified by austerity policies on both sides of the Atlantic, have led to a renewed interest, in anthropology as in other social sciences, in the logics of capitalist accumulation, the deepening of the neoliberal doctrine, the multiple daily coping and survival strategies mobilised by individuals, families, collectives and communities and the search for alternative life horizons. Although the subject of neoliberalism, processes of neoliberalisation or neoliberal reason is an anthropological theme that predates the 2008 crisis, some articles published in Etnográfica over the last two decades show how the great recession has led not only to a renewed interest in neoliberal capitalism, but also to a set of perspectives that demonstrate the relevance of provincialising the processes, logics and moralities that generate and sustain neoliberal capitalist dynamics in different temporalities, scales and spatialities. Inspired by Chakrabarty (2000. Provincializing Europe. Princeton: Princeton University Press), by provincialising neoliberal capitalism I mean the imperative to consider the pre-existing concepts, categories, institutions and practices in a given historical reality, through which the neoliberal project is translated, configured, articulated and lived as an economic, political and ideological project.
Os severos efeitos humanos e sociais da crise financeira de 2008, posteriormente intensificados por políticas austeritárias nos dois lados do Atlântico, levaram a um renovado interesse, na antropologia como noutras ciências sociais, pelas lógicas de acumulação capitalista, o adensar da doutrina neoliberal, as múltiplas estratégias quotidianas de superação e sobrevivência mobilizadas por indivíduos, famílias, coletivos e comunidades e a busca de horizontes alternativos de vida. Muito embora o tema do neoliberalismo, dos processos de neoliberalização, ou da razão neoliberal, seja uma temática antropológica que antecede a crise de 2008, alguns artigos publicados na Etnográfica nas últimas duas décadas demonstram como a grande recessão levou não só a um renovado interesse pelo capitalismo neoliberal, mas também a um conjunto de olhares e perspetivas que demonstram a relevância da provincialização dos processos, lógicas e moralidades que geram e sustentam dinâmicas capitalistas neoliberais em temporalidades, escalas e espacialidades distintas. Inspirada por Chakrabarty (2000. Provincializing Europe. Princeton: Princeton University Press), por provincialização do capitalismo neoliberal entendo o imperativo de considerar os conceitos, categorias, instituições e práticas pré-existentes numa determinada realidade histórica, através dos quais o projeto neoliberal é traduzido, configurado, articulado e vivido como projeto económico, político, ideológico.
Los graves efectos humanos y sociales de la crisis financiera de 2008, intensificados posteriormente por las políticas de austeridad a ambos lados del Atlántico, han suscitado un renovado interés, tanto en la antropología como en otras ciencias sociales, por las lógicas de acumulación capitalista, la profundización de la doctrina neoliberal, las múltiples estrategias cotidianas de afrontamiento y supervivencia movilizadas por individuos, familias, colectivos y comunidades y la búsqueda de horizontes vitales alternativos. Aunque el tema del neoliberalismo, los procesos de neoliberalización o la razón neoliberal es un tema antropológico anterior a la crisis de 2008, algunos artículos publicados en Etnográfica en las dos últimas décadas muestran cómo la gran recesión ha dado lugar no sólo a un renovado interés por el capitalismo neoliberal, sino también a un conjunto de perspectivas que demuestran la relevancia de provincializar los procesos, lógicas y moralidades que generan y sostienen las dinámicas capitalistas neoliberales en diferentes temporalidades, escalas y espacialidades. Inspirándome en Chakrabarty (2000. Provincializing Europe. Princeton: Princeton University Press), por provincializar el capitalismo neoliberal entiendo el imperativo de considerar los conceptos, categorías, instituciones y prácticas preexistentes en una realidad histórica determinada, a través de los cuales el proyecto neoliberal se traduce, configura, articula y vive como proyecto económico, político e ideológico.
Les graves conséquences humaines et sociales de la crise financière de 2008, intensifiées par la suite par des politiques d'austérité des deux côtés de l'Atlantique, ont suscité un regain d'intérêt, en anthropologie comme dans d'autres sciences sociales, pour les logiques d'accumulation capitaliste, l'approfondissement de la doctrine néolibérale, les multiples stratégies quotidiennes d'adaptation et de survie mobilisées par les individus, les familles, les collectifs et les communautés, et la recherche d'horizons de vie alternatifs. Bien que le néolibéralisme, les processus de néolibéralisation ou la raison néolibérale soient des thèmes anthropologiques antérieurs à la crise de 2008, certains articles publiés dans Etnográfica au cours des deux dernières décennies montrent que la grande récession a suscité non seulement un regain d'intérêt pour le capitalisme néolibéral, mais aussi un ensemble de perspectives qui s'appuient sur les principes de l'économie de marché, mais aussi à un ensemble de perspectives qui démontrent la pertinence de provincialiser les processus, les logiques et les moralités qui génèrent et soutiennent les dynamiques capitalistes néolibérales dans différentes temporalités, échelles et spatialités. Inspiré par Chakrabarty (2000. Provincializing Europe. Princeton : Princeton University Press), j'entends par provincialisation du capitalisme néolibéral l'impératif de considérer les concepts, catégories, institutions et pratiques préexistants dans une réalité historique donnée, à travers lesquels le projet néolibéral est traduit, configuré, articulé et vécu en tant que projet économique, politique et idéologique.
https://doi.org/10.25660/agora.0020.py2w-an59 


Abrimos la puerta al archivo y miramos con nuevos lentes la antropología publicada en Etnográfica desde 1997. Cada cuatro meses, un/a editor/a invitado/a propone una selección de relecturas a partir de un eje temático (o geográfico, o temporal, o...) definido en función de sus intereses de investigación, o de lo que en el mundo actual más le interpela como investigador/a.


En el número de octubre, mes en el que, en este rincón de la periferia europea, se van conociendo los matices de austeridad del proyecto de Presupuestos Generales del Estado para 2025, Patrícia Alves de Matos reflexiona sobre «La provincialización de los proyectos económicos ortodoxos: porosidades, relaciones y moralidades». A partir del archivo de Etnográfica, propone algunos buenos ejemplos de la indispensable atención de la antropología a las realizaciones vividas, intrínsecamente situadas y plurales de la destructiva hegemonía neoliberal.





Antes da crise de 2008, o dossiê editado por Manuela Ivone Cunha em 2006 indica um aspeto importante que permeia a provincialização dos processos de neoliberalização. Através do par analítico formalidade/informalidade, é abordado o modo como, implícita ou explicitamente, formas contemporâneas de acumulação capitalista intensificaram a deslocação do informal e do flexível das margens para o centro de processos vários, incluindo na crescente flexibilização das relações laborais. Ainda mais relevante é o modo como dois dos artigos assinalam a porosidade entre formal e informal no contexto da globalização neoliberal. Gustavo Lins Ribeiro enfatiza como os processos globais de hegemonia neoliberal (e.g. privatizações, financeirização, acumulação flexível, etc) dependem de processos não-hegemónicos, ‘a partir de baixo’, que simultaneamente desafiam processos económicos ortodoxos a várias escalas. Para o autor, as práticas, comportamentos e lógicas económicas dos envolvidos na globalização não-hegemónica não representam uma tentativa organizada e militante de derrubar o sistema capitalista, mas antes uma forma de sobrevivência ou mobilidade social ascendente, ao possibilitar o acesso a recursos materiais e imateriais que as instâncias institucionais não oferecem à maior parte da população. De forma semelhante, o artigo de Susana Narotzky sobre as relações porosas entre capital e trabalho no contexto de uma ‘economia regional’ espanhola demonstra como o modelo dos distritos industriais, introduzido primeiramente no norte de Itália, repousa na noção de capital social, entendido como a capacidade das políticas de desenvolvimento se embeberem em relações, significados e moralidades previamente partilhadas no tecido social. A crítica etnográfica e teórica feita pela autora à noção de capital social consiste em especificar que o apelo ao embebimento dos processos económicos em relações, esferas e lógicas não-económicas não significa uma diminuição da capacidade regulatória do estado e outras instituições, mas antes o seu incremento, seletivo e diferenciado, consoante os mecanismos de regulação sejam orientados para as relações sociais de produção ou para as relações mercantis.


Já depois da crise financeira de 2008, em 2010, o artigo de Erik Bähre aborda a expansão da comercialização de apólices de seguro às populações mais pobres na África do Sul e o modo perverso como esta expansão, ao invés de constituir uma maior democratização no acesso a formas de proteção social do sector privado, incrementa os riscos e as desigualdades a que os mais destituídos podem vir a ser sujeitos. O mito da globalização neoliberal, e da ‘trickle-down economics’, como uma arena de maior equidade na distribuição e redistribuição de recursos, com potencial para diminuir níveis de pobreza e destituição cidadã é, assim, fortemente posto em causa. Efetivamente, Bähre demonstra que definições individualizadas do risco sustentam a expansão da indústria dos micro-seguros na África do Sul. A intensificação destas definições individualizadas do risco produz, e é o produto de, uma contradição ou tensão estrutural que se expressa no facto de grupos sociais desprivilegiados estarem mais expostos a vários tipos de riscos, ao mesmo tempo que não possuem os meios materiais para suportar apólices de seguros suficientemente amplas. O autor também demonstra como as empresas seguradoras são capazes de cooptar relações não-económicas (de amizade, vizinhança, parentesco) para ganhar acesso a um crescente número de pessoas nos segmentos mais pobres da sociedade.



Em 2012, o texto de Susana Narotzky sobre uma ‘Europa em crise’, devastada pelo colapso financeiro de 2008 e pelas políticas de austeridade, abre caminho a um novo paradigma na análise antropológica dos processos económicos. A autora enfatiza que o momento contemporâneo exige uma atenção detalhada ao que chama ‘grassroots economies’, ou economias populares, e a sua interconexão com modelos macroeconómicos, configurações institucionais de regulação e a produção de políticas. O texto de Narotzky assinala o poder crítico e explanatório da teoria antropológica e da evidência etnográfica como forma de valorizar o conhecimento económico ‘a partir de baixo’, tantas vezes negligenciado e desvalorizado pelos paradigmas ortodoxos.


O volume editado por Jon Mitchell e Noel Dyck em 2014, convoca os leitores a abordarem os efeitos da reestruturação e governação neoliberal nas universidades. Um fenómeno que para os autores é global, devido a imperativos estruturais, mas que apresenta nuances contextuais  – estando  o contexto anglo-saxónico na vanguarda neoliberal. Os constrangimentos impostos ao sistema universitário expressam-se, por exemplo, nas exigências de interdisciplinaridade como forma de aceder a financiamentos e para efeitos de verificação contabilística, mas também nas dificuldades burocráticas ligadas à gestão transnacional de projetos. Um dos aspetos salientados reside no modo como a interdisciplinaridade se tornou um fim em si mesmo, ao invés de um meio de produção cumulativa de conhecimento. Outra dimensão fundamental reside na crescente quantificação dos resultados da pesquisa em ciências sociais, como forma de verificar (e legitimar) o seu impacto dentro e fora da universidade. A perversidade desta prática expressa-se no modo como pode potencialmente contribuir para transformar a orientação plurinormativa da antropologia e da teoria etnográfica, estabelecendo uma normatividade hegemónica associada às pretensões de neutralidade e objetividade dos números, indicadores ou rankings.


Em 2016, a Etnográfica publica a tradução, por Paulo Mendes, de um texto de Thomas Hylland Eriksen sobre formas crescentes de aceleração interconectada na contemporaneidade e a relevância da antropologia para dar conta do modo como as populações locais respondem e se confrontam com as mudanças que aquelas desencadeiam. O texto de Eriksen é importante por várias razões. Em particular, o modo como destaca a capacidade da antropologia para olhar, interpretar e explicar as múltiplas contradições que embebem as vidas humanas, entre sustentabilidade ecológica e crescimento económico, entre valores sociais e premissas económicas neoliberais. O autor insiste na ‘necessidade da antropologia’ após décadas de governação neoliberal e, na senda de Eric Wolf, sugere que as “aproximações exploratórias devem prestar a devida atenção ao genius loci da localidade, situando-a historicamente e conectando-a a uma análise dos processos globais” (207).


Em 2020, o volume editado por Mikel Aramburu Otazu e Irene Sabaté Muriel recupera o conceito de ‘deservingness’ como nódulo analítico mais amplo para pensar e articular o modo como são formulados sentidos de injustiça com base em argumentos morais que sustentam o acesso, ou a sua negação, a recursos, direitos e reconhecimento. A destacar, o modo como os autores re-situam a noção de merecimento como central para abordar as economias morais do neoliberalismo. Isto é, pensar o merecimento como um mecanismo que continuamente produz e reproduz categorizações, diferenciações e distinções do valor das pessoas num momento histórico de recuo do estado social e diminuição dos bens públicos e comuns.




Antes da crise financeira de 2008, o estudo antropológico do neoliberalismo esteve proeminentemente focado na teorização de modelos que explicassem as dinâmicas globais de acumulação neoliberal. A seleção de artigos que referi demonstra como a Etnográfica acompanhou uma tendência global: de 2008 em diante podemos verificar um maior interesse nas dimensões contingentes, contextuais, históricas, institucionais e locais constitutivas do ‘neoliberalismo realmente existente’, em detrimento da busca de modelos puros totalizantes que quase nunca são capazes de explicar a dimensão molecular dos projetos económicos ortodoxos – como o caso do neoliberalismo ou do projeto da austeridade. Abordar os processos porosos, relações e moralidades que sustentam formas de acumulação capitalista neoliberal ou austeritária em contextos diversos não significa apenas acentuar a diversidade e multiplicidade de formas institucionais e culturais. Antes, significa enfatizar a centralidade dos mecanismos constitutivos da provincialização de projetos económicos ortodoxos, restituindo-lhes assim a sua historicidade, contingência e diferença. Significa também abrir caminho ao estudo da pluralização processual do potencial hegemónico dos projetos económicos ortodoxos. Isto é, significa identificar, explicar e articular os múltiplos processos através dos quais projetos económicos ortodoxos são expressos e legitimados em incorporações parciais, contradições vividas e histórias disputadas.

Patrícia Alves de Matos (CRIA-Iscte)

Patrícia Alves de Matos é uma antropóloga económica formada em Lisboa e Londres. Atualmente é investigadora sénior do CRIA-Iscte, onde desenvolve o projeto “Everyday Worlds of Welfare: A Comparative Study of Human Needs, Livelihood Sustainability and Social Policy in Southern Europe” financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia. É também Professora Auxiliar Convidada no Departamento de Antropologia da FCSH/Universidade Nova de Lisboa. Os seus interesses de investigação incluem neoliberalismo, precariedade e trabalho; género, políticas do corpo e reprodução social; austeridade, bem-estar, necessidades e moralidades da distribuição. A Manchester University Press publicou a sua monografia, “Disciplined Agency: Neoliberal Precarity, Generational Dispossession and Call Centre Labour in Portugal”, em julho de 2020.

Nota: imagens retiradas da internet.

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